São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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Festival de Berlim abre corrida ao Urso de Ouro

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Três filmes abrem hoje a mostra competitiva do 44.º Festival Internacional de Cinema de Berlim. O chinês "Huo Hu", de Wu Zi-niu, trata de forma alegórica uma caça à raposa. O espanhol "Do Outro Lado do Túnel", do catalão Jaimede Arminen, recorre ao metacinema para temperar um triângulo amoroso: dois dos envolvidos são roteiristas de um mesmo filme. A grande atração do dia é "Sem Medo de Viver", do australiano radicado em Hollywood Peter Weir ("Sociedade dos Poetas Mortos"). Jeff Bridges interpreta um arquiteto que tem dificuldades para se adaptar à vida normal após passar por um desastre de avião.
Alterações de última hora ampliaram o número de projeções especiais fora de concurso e reduziram para apenas 22 os concorrentes ao Urso de Ouro. "Terras de Sombras" (Shadowlands) de Richard Attenborough, "Vestígios do Dia" de James Ivory e "Adeus a Agnes" do alemão Michael Gwisdek serão exibidos "hors concours".
Berlim-94 acabou ainda por incluir em sua programação uma homenagem final ao genial ator e diretor francês Jean-Louis Barrault, morto há duas semanas. Sua maior participação no cinema, em "Boulevard do Crime" (Les Enfants du Paradis, 1944), de Marcel Carné, será exibido na próxima quarta-feira à noite.
O júri internacional de Berlim 94 foi confirmado com Jeremy Thomas (produtor, Grã-Bretanha), Tschingis Aitmatov (escritor, Kirgisia), Maria Luisa Bemberg (diretora, Argentina), Morgan Freeman (ator, EUA), Francis Girod (diretor, França), Corinna Harfouch (atriz, Alemanha), Hsu Feng (atriz, China), Carlo Lizzani (crítico, Itália), Wulfrem Achuette (crítico, Alemanha), Susan Seidelman (diretora, EUA) e Hayao Shibata (distribuidor, Japão).
Além da sessão de abertura com a projeção "hors concours" do polêmico "O Pequeno Buda" de Bernardo Bertolucci, com Keanu Reeves no papel-título, Berlim inaugurou a grande retrospectiva histórica do ano, dedicada ao diretor e ator Erich von Stroheim (1885-1957). Todos conhecem Stroheim como o aplicado mordomo de Norman Desmond, a esquecida estrela do cinema mudo de "Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Boulevard, 1950) de Billy Wilder.
Poucos conhecem Stroheim como o aplicado mordomo de Norman Desmond, e esquecida estrela do cinema mudo de "Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Boulevard, 1950) de Billy Wilder. Poucos o reconhecem, contudo, como um dos mais rigorosos e inventivos cineastas da era muda, autor de corrosivas comédias de costumes como "Blind Husbands", (1919), "The Wedding March" (1926-27), e "Queen Kelly" (1928-29). É de Stronheim também o mais cruel retrato mudo do arrivismo à americana em "Ouro e Ambição" (Greed, 1923).
As duas faces de Stroheim, como o ator que forjou a persona fílmica do durão oficial germânico e como o cineasta que desafiou o moralismo da primeira Hollywood, são fartamente revisitadas pela mostra berlinense. As primeiras sessões da retrospectiva Stroheim, na noite de ontem, tinham seus ingressos esgotados já pela manhã.

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