São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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Rússia reage contra ação da Otan na Bósnia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um dia depois de a Otan lançar um ultimato aos sérvios da Bósnia, a Rússia pediu ontem a convocação do Conselho de Segurança da ONU para rediscutir a situação na ex-Iugoslávia. Moscou condenou o ultimato e tenta recuperar a iniciativa diplomática para impedir ataques aéreos contra os sérvios, seus tradicionais aliados.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Grigori Karasin, pediu um fim negociado para o cerco sérvio a Sarajevo, a capital bósnia. O vice-chanceler Anatoli Adamachin disse que a aliança militar ocidental está usurpando a autoridade da ONU.
Em Washington, um assessor do presidente Bill Clinton disse que o governo dos EUA não vê necessidade de convocar uma reunião especial do Conselho de Segurança. Ele argumentou que resoluções já adotadas pela ONU prevêem ataques aéreos caso os sérvios não retirem sua artilharia de Sarajevo. A Casa Branca disse que Clinton tentou falar pelo telefone com seu colega russo, Boris Ieltsin, nos últimos dois dias. Um porta-voz do Kremlin afirmou desconhecer essas tentativas.
O estopim para a ameaça da Organização do Tratado do Atlântico Norte foi o ataque que matou 68 pessoas e feriu mais de 200 num mercado de Sarajevo, no sábado passado. O ultimato, lançado na quarta-feira, exige que os sérvios afastem sua artilharia para não menos de 20 km do centro da cidade até a zero hora do dia 20. O não-cumprimento da exigência levaria a aliança a lançar ataques aéreos, o primeiro dos quais somente com autorização expressa do secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali; ações subsequentes seriam decididas pelos comandantes da ONU e da Otan na área.
O ultimato foi seguido pelo anúncio de um novo cessar-fogo entre sérvios e muçulmanos em Sarajevo. Tropas francesas das forças de paz da ONU deslocaram-se ontem para posições entre os dois exércitos beligerantes. À noite, porém, três obuses de artilharia atingiram a cidade sitiada e ouviu-se barulho de metralhadoras.
A eventual intervenção da Otan na Bósnia pode gerar novas tensões entre Moscou e Washington. O líder ultranacionalista russo Vladimir Jirinovski tem afirmado que um ataque aéreo aos sérvios poderá desencadear a Terceira Guerra Mundial. O jornal "Estrela Vermelha", do Ministério da Defesa, publicou artigo sustentando que a explosão de sábado foi uma "provocação de fundamentalistas muçulmanos", acusação feita pelos sérvios e descartada no Ocidente. A posição oficial de Moscou é de que uma ação da Otan somente aumentaria a violência.
Todas as forças nucleares estratégicas da Rússia foram colocadas em alerta ontem. O ministro da Defesa, Pavel Gratchov, disse que se tratava apenas de "um exercício" e recusou-se a comentar a coincidência entre o alerta e o ultimato da Otan aos sérvios.

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