São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Como é difícil ser treinador no Brasil

AFRÂNIO RIUL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Existem vários fatores que dificultam a profissão de treinador. Enumerando:
1. Diretoria (para dar estrutura financeira e emocional);
2. Torcedores (o lado social, a paixão, resultados da equipe);
3. Arbitragem (um erro pode desmoronar um trabalho realizado);
4. Clube (estrutura ruim, cobrança de resultado, prioridades);
5. Imprensa (sua participação é importantíssima, não pode ter leigos).
Tantas são as dificuldades, que existe até uma famosa frase de Nenê Canhota: "De técnico e louco, todo mundo tem um pouco". É realmente o que acontece.
A nossa responsabilidade é total. Temos que supervisionar tudo (a parte administrativa, médica, rouparia, operacional), porque os maiores interessados somos nós. Apesar de termos profissionais nos auxiliando, tudo nos preocupa, além de nossa parte principal, que é treinar e escalar. Há também o lado da psicologia, fator mais importante no grupo.
O futebol é celebrado segundo um modelo que fala do transcendente, como, por exemplo, a celebração da Copa do Mundo comparada com a conquista do paraíso. Celebramos que é a festa sem fim, sem por outro lado esconder que a derrota é sempre possível. De qualquer forma, depois das reflexões precedentes, poderemos compreender melhor certos momentos de entusiasmo e euforia, apresentadas grandes vitórias no futebol como verdadeiras entradas no paraíso.
Por enquanto, é o tempo do jogo. A vitória, a entrada do paraíso e a festa definitiva serão apenas consumadas depois do último sinal do árbitro que, no futebol, é a encarnação simbólica do destino.
Em outros países, dá-se um tempo maior para os treinadores, existe respeito. Infelizmente, em nosso país não permitem trabalho a longo prazo sem resultados imediatos. É muito importante a boa estrutura em um clube de futebol, para dar boas condições de trabalho à comissão técnica e aos atletas profissionais.
O São Paulo Futebol Clube é um grande exemplo. Ele vem preparando esta estrutura há muitos anos. O Palmeiras também sofreu anos para chegar ao estágio atual, com grande estrutura e forte patrocinador. O União de Araras mantém seu treinador pelo terceiro ano consecutivo. Por isso, tem sempre bom resultado, tanto nas campanhas como nas revelações.
Infelizmente, alguns clubes realizam excelente campanha, mas não mantêm seus jogadores e treinador, pelos mesmos exigirem um pouco mais nos contratos. Os clubes, na sua maioria, se mantêm com a venda de atletas e partem em busca de um treinador com vencimentos menores, sem medir, às vezes, a capacidade.
Nunca tive problemas de relacionamento com imprensa, dirigentes e atletas. Um fato que aconteceu na minha ida para o Corinthians me chamou a atenção: um jornalista declarou que o Corinthians contratou um treinador desconhecido. Ora, trabalhei sempre no futebol de São Paulo, 1ª e 2ª divisões, onde o campeonato é o mais divulgado, mais organizado e mais rentável. Portanto, também o mais difícil.
Ascendi à 1ª Divisão três equipes, pela ordem: Rio Branco de Americana, Araçatuba e Comercial de Ribeirão Preto. Também levei o Novorizontino para o octogonal final, garantindo o clube na chave A-1, grupo de elite do futebol paulista. Portanto, memória curta desse jornalista. Felizmente, nos 28 dias que passei no Corinthians fiz grandes amizades e graças a Deus pude ter um contato mais próximo com a imprensa da capital. Fico grato a todos e também ao Luxemburgo, pela solidariedade profissional. Estou tranquilo, com paz de espírito, pronto para desenvolver e dar seguimento ao meu trabalho.

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