São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Galerias disputam escolhidos da Bienal

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Galerias disputam escolhidos da Bienal
Divulgação da lista de artistas da Bienal dá projeção nacional a galerias e movimenta mercado dos novos
Assim que saiu a lista dos 23 artistas brasileiros da 22ª Bienal, no último dia 15, o mais jovem e um dos mais desconhecidos dos escolhidos tornou-se também o mais
assediado pelas galerias de arte. O israelense Yiftah Peled, 29, radicado em Curitiba desde 1991, recebeu propostas para fazer cinco exposições. Começava ali mais um
subproduto da Bienal: a disputa das galerias pelos jovens artistas.
É o tipo de artista que não falta nesta Bienal, que acontece de 12 de outubro a 11 de novembro em São Paulo. Dos 23 escolhidos, dez começaram a fazer exposições individuais nesta década, três nem têm marchand e dois são representados por uma galeria que começa a ter projeção nacional por causa da lista da Bienal: a Casa da Imagem de Curitiba, que trabalha com Yiftah Peled e Francisco Faria.
A galeria mais voraz é justamente a que não tem nem um artista na lista da Bienal: a São Paulo (leia quadro com lista dos artistas e galerias). Além de Yiftah Peled,
Regina Boni, 49, dona da Galeria São Paulo, quer contratar Paulo Monteiro, Rosângela Rennó, Adriane Guimarães, Hermann Tacasey e Francisco Faria.
"É a primeira vez que um marchand me procura em nove anos de carreira", conta Tacasey, procurado por outros dois marchands autônomos. Como em qualquer disputa de mercado, os marchands procuram valorizar seus artistas e
não faltam acusações. "Yiftah vai ser a grande revelação da Bienal. É a nova Jac Leirner, vai arrebentar no mercado internacional", diz Marcos Mello, 38, da Casa da Imagem. "Ele tem uma trajetória parecida com a de Joseph Beuys: foi pára-quedista
em Israel". De fato, Yiftah serviu como pára-quedista no Exército de Israel em 1985 na ocupação do Líbano. Só que nunca foi alvejado, como aconteceu com Beuys
(1921-1986) na Criméia em 1943.
"Essas comparações são exageradas, não sou Jac Leirner nem Beuys", esquiva-se Yiftah, que só fez duas exposições individuais. Oportunismo?
A voracidade da Galeria São Paulo é recebida com reservas no mercado de arte. "Lista da Bienal não me influencia. Isso é coisa de quem não tem olho", diz Luisa
Strina, 50, dona da galeria homônima. "É oportunismo", acha André Milan, 33, da Galeria Milan, que tem três artistas na Bienal. "Não me interesso pelos jovens
O único marchand ouvido pela Folha que acha "natural" a atitude da Galeria São Paulo é Ricardo Trevisan, 34, da Casa Triângulo, a galeria de Rosângela Rennó. "Isso
faz parte da concorrência. Pelo menos uma vez por semana a dona Regina Boni tenta tirar um artista da minha galeria", diz. Até agora, a São Paulo não levou nenhum.
Regina Boni diz que não há oportunismo nas suas tentativas. "Fui atrás dos artistas porque confio no olho do Nelson Aguilar", afirma, referindo-se ao curador da Bienal.
Às acusações de quebra da ética, ela devolve: "Quem pode mais chora menos".

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