São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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Bolsa recebe US$ 1 bi em janeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo líquido de ingresso de capital estrangeiro para investimento nas Bolsas de Valores brasileiras registrou, em janeiro, a marca de US$ 1 bilhão, o que representou um aumento de 84% em relação ao movimento de dezembro do ano passado (US$ 547 milhões). Com a chegada desses dólares, o dinheiro externo para o mercado acionário soma um total líquido de US$ 8,186 bilhões desde 1991, quando o governo autorizou a presença de estrangeiros nas Bolsas.
Os dados foram divulgados ontem pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Segundo o relatório da entidade, janeiro registrou a entrada bruta de US$ 1,7 bilhão, com a saída de US$ 728 milhões. O ingresso de capital foi o menor desde setembro do ano passado, mas o retorno aos países de origem dos dólares investidos no mercado brasileiro foi a menor dos últimos seis meses.
Álvaro Augusto Vidigal, presidente da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), afirmou que o aumento do saldo no fluxo de capitais ao mercado acionário brasileiro refletiu no crescimento da participação dos estrangeiros no volume financeiro negociado no pregão. Segundo ele, o capital externo foi responsável por 18,9% do movimento da Bolsa, no mês passado, o maior desde janeiro de 1993.
Os investidores americanos detiveram a maior fatia do bolo de dólares que chegou ao país no mês passado, sendo responsáveis por 31,3%. O capital externo com origem na América Central ficou em segundo lugar no ranking de janeiro, com uma participação de 31,0%. Em seguida estão os europeus, com 23,8%, e os investidores da América do Sul, donos de 12,2% do total. Os asiáticos ainda são minoria, com apenas 1,7%.
Os bancos lideraram o ranking por tipo de investidor em janeiro (36,8%), seguidos pelas corretoras de valores internacionais, que participaram com 31,6%, e fundos de pensão e entidades institucionais, com outros 31,0%.
O dinheiro investido no Brasil está dividido entre ações (82,45%), debêntures (15,92%), moedas de privatização (1,46%) e FAF (0,16%). Os maiores administradores de fundos estrangeiros de investimento foram o Chase Manhattan (US$ 3,5 bilhões), Garantia (US$ 1,9 bilhão), Citibank (US$ 1,7 bilhão), Boston (US$ 734 milhões) e Pactual (US$ 622 milhões).
Cláudio Haddad, diretor superintendente do Banco Garantia, afirmou que a continuidade do processo de entrada de recursos externos nas Bolsas brasileiras, a partir de agora, vai depender da definição de muita coisa. "A indefinição sobre a permanência do ministro Fernando Henrique Cardoso (Fazenda) no cargo, a aprovação do Fundo Social de Emergência e a implantação da URV devem afetar os mercados", previu Haddad.
Para José Monforte, vice-presidente do Citibank, a tendência de crescimento da participação do capital estrangeiro nas Bolsas deve continuar, assim como a evolução do posicionamento da instituição na administração dos recursos de estrangeiros que chegam ao país. Segundo ele, serão naturais algumas correções de preços por causa da forte valorização das ações em janeiro e o início de fevereiro, mas a médio prazo ainda há motivos de atração.
"Estive há duas semanas com investidores dos Estados Unidos e pude constatar que o interesse é grande", contou. "Nós vamos, por isso, aumentar a oferta de serviços para o capital internacional com interesses no Brasil." A perspectiva de continuidade do ingresso de capital externo também é compartilhada pela economista Maria Cecília Rossi, ex-diretora da CVM, que acredita na manutenção de uma média de ingresso líquido de US$ 1 bilhão por mês nas Bolsas.
"A liquidez é muito grande no mercado internacional e há toda uma lista de papéis que continuam baratos no Brasil", acredita ela. "E esse volume de dólares representa muito pouca coisa do poder de investimentos dos fundos externos."

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