São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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A verde e "rossa"

FLAVIO GOMES

Existem algumas semelhanças entre o Mundial de Fórmula 1 e o desfile das Escolas de Samba do Rio. Mais ainda entre o que aconteceu na Sapucaí no começo desta semana e o que vai rolar nas pistas a partir do final de março. Já tenho minha candidata a Mangueira: é a Ferrari, que não tem verde nem rosa, mas espera que todo mundo vá atrás dela mesmo assim.
O resultado vai ser igual ao do Sambódromo. A Ferrari, apesar do seu enredo encantador e de sua magia que paira acima das próprias corridas de automóvel, será batida por uma Imperatriz da vida, mais azeitada e objetiva como é a Williams. Falta à "rossa" o que sobrou à Mangueira este ano: os destaques.
Quem é o Caetano de Maranello? Berger? E a Gal? Alesi? E Gil? Lauda? Nenhum desses. A Ferrari tem boas alegorias e um samba bonito. O problema é que corre o risco de ter um carro meramente alegórico. Em Fórmula 1 isso não ganha título. Em Carnaval também não.
Favorita nos corações dos amantes da velocidade, a Ferrari deveria ter se preocupado mais com o sujeito responsável por vestir a fantasia. Perdeu Senna de bobeira. Faltou esforço. É verdade que Ayrton queria porque queria correr na Williams, mas um assédio apaixonado poderia fazê-lo mudar de idéia.
Imagine a Mangueira sem os doces bárbaros na avenida. Se com eles perdeu, sem eles talvez fosse rebaixada. As alegorias imaginadas por Barnard, o Joãosinho Trinta das pranchetas, é que podem segurar o time italiano no grupo especial.
Leve, pequena e caríssima, a nova caixa de câmbio do carro é a menina dos olhos do inglês. Por causa dela a vermelhinha é muito estreita atrás e apresenta um potencial aerodinâmico superior aos concorrentes.
Tudo isso é muito bonito no papel, mas a ausência de um piloto vários pontos acima da média vai esticar um pouco o sofrimento dos torcedores que acompanham a Ferrari onde quer que ela vá. Alesi e Berger não têm perfis vencedores. O francês merece um crédito de confiança, ainda, mas certamente não é ele o homem indicado para dar vida ao sonho sobre rodas de Barnard.
Pensando bem, foi pena Senna ter ido para a Williams. Seria como se Caetano, em vez de sair na Mangueira, escolhesse a Viradouro. Tirou a graça do desfile.

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