São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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Mãos Limpas pode julgar mais 102

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Promotores italianos recomendaram ontem que 102 pessoas sejam processadas por corrupção na construção da terceira linha do metrô de Milão (norte), entre elas o ex-premiê Bettino Craxi.
Uma audiência para verificar se há provas suficientes para abrir o processo foi marcada para 19 de abril. Foram acusados três ex-executivos do grupo automobilístico Fiat e Salvatore Ligresti, magnata do setor de construção. Ele já admitiu na Justiça ter pago cerca de US$ 1 milhão em propinas a políticos entre 1987 e 1990.
Craxi, primeiro-ministro entre 1983 e 87, dominou o Partido Socialista até ser obrigado a deixar a liderança por causa das denúncias de corrupção. Em 29 de março, um dia depois das eleições, Craxi será julgado pela acusação de receber propinas em um contrato envolvendo a estatal do setor elétrico ENI. Será o primeiro ex-premiê a ir a julgamento.
Esta semana, ele lançou uma aparente campanha de vingança pessoal contra os líderes ex-comunistas do PDS (sigla em italiano para Partido Democrático de Esquerda). Segundo o "dossiê Craxi", o antigo PCI recebeu financiamentos ilegais de Moscou e de organizações sindicais.
Os promotores de Milão afirmaram que dois ex-prefeitos da cidade, Paolo Pillitteri e Carlo Tognoli, e o presidente da Olivetti, Carlo de Benedetti, foram retirados da lista dos acusados.
Críticas
O empresário Vito Gamberale, 49, preso por corrupção há quatro meses e mantido virtualmente incomunicável, disse que o país corre o risco de ter uma "justiça sumária". Ele é considerado símbolo de abuso de poder por parte dos juízes da Operação Mãos Limpas, que há dois anos investiga escândalos de corrupção na Itália. "A Itália não pode se tornar uma praça da Concórdia, com uma guilhotina perpétua", disse.
Acusado de extorquir um funcionário da telefônica estatal SPI, Gamberale passou três meses em um prisão de Nápoles (sul). Atualmente, cumpre prisão domiciliar na capital, Roma. Neste período, ele foi interrogado apenas uma vez e não foi indiciado.
Críticos da Operação Mãos Limpas afirmam que as prisões preventivas de três meses –quase 3.000 em dois anos– são usadas como forma de tortura psicológica para obter confissões. A controvérsia atingiu o auge em julho do ano passado, quando Gabriele Cagliari, ex-diretor da ENI, se suicidou em uma cadeia de Milão. Ele deixou várias notas criticando o Judiciário.

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