São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 1994
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Deputados do PT traem mandato

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Nem seus mais ferozes inimigos conseguiriam criar um fato tão embaraçoso à imagem do PT –e, mais uma vez, fica nítido que o partido é vítima de si mesmo. Sobressai a imagem de um partido estúpido e radical, ao proibir a participação dos deputados na revisão constitucional. Isso com a omissão de Lula na votação de quinta-feira.
Compreensível que o PT tenha se esforçado para evitar a revisão. Até aí, tudo bem. Mas existe um fato consumado: a revisão já está acontecendo. Para começo de conversa, um protesto vazio.
Exemplo de estupidez: Luiz Inácio Lula da Silva tem chances de ser presidente da República. E discute-se na revisão, por exemplo, o tamanho do mandato presidencial. Decidem-se prazos de desincompatilização e o direito de reeleição.
Na prática, os deputados estão traindo seus eleitores. Eles foram guindados ao Congresso para legislar –mas não cumprem seu óbvio papel. São decididas na revisão constitucional muitas questões do interesse direto de quem votou no parlamentar.
Primeira lição: o partido não chegou a uma conclusão sobre temas essenciais como o que significa o Legislativo num país democrático. Natural: muitos de seus integrantes passaram a vida defendendo a "ditadura do proletariado".
Segunda lição: Lula simplesmente não controla seus radicais. Eles estão no comando de postos vitais do PT e, se eleitos, vão abrir uma guerra para ocupar posições.
Óbvio o arranhão na imagem de Lula que, diária e sinceramente, se esforça em passar a imagem de moderado. A decisão do PT estimula as suspeitas de que ele corre o risco de comer nas mãos de quem nem sequer entendeu a atividade legislativa.
PS – A propósito da guerra de imagens: diante das críticas sobre a montagem de dossiês, comentada nesta coluna, assessores de Orestes Quércia dizem que se está seguido o modelo "bem-sucedido" de Antônio Carlos Magalhães. Antes de lançar uma crítica, adversários pensam duas vezes, temendo que ACM tenha um dossiê com informações comprometedoras para revidar.

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