São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Maia votou em Lula em 89

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O deputado estadual Elísio Maia (PFL), tido como o último coronel sem patente de Alagoas, votou no petista Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição presidencial. Mas afirma que não vai repetir o voto. Quanto ao governo atual, Maia diz que o presidente Itamar Franco deve olhar mais para a fome do sertanejo nordestino. Sobre seu passado político, o deputado fala com orgulho de sua oposição ao regime militar.
O deputado só não gosta mesmo é de falar dos episódios violentos que envolvem sua carreira como a chamada "chacina de Tapera", quando três peemedebistas foram metralhados em um bar de Tapera (sertão alagoano), uma das cidades dominadas politicamente por ele há 40 anos. A chacina aconteceu em 86. O inquérito policial diz que seus adversários chamaram Maia de "corno" no palanque. Maia chegou a ficar preso por cinco dias, mas acabou inocentado pela Justiça por falta de provas.
Folha – O que o sr. acha do governo Itamar?
Elísio Maia – O Itamar tem que olhar a pobreza. Tem muita gente morrendo de fome. O sertanejo está morrendo de fome. O presidente tem que providenciar uma maneira de salvar o povo da fome. Ninguém aguenta pagar 300 contos por um quilo de feijão e 150 contos o quilo da farinha.
Folha – Qual sua opinião sobre a CPI do Orçamento?
Elísio Maia – Quem quer fazer marmelada, que faça. Marmelada, Elísio Maia não faz. Não entro no mérito do trabalho da CPI. Acho que quem faz marmelada deve pagar.
Folha – O sr. desafiou o movimento militar de 64. Fez política mesmo proibido de ter mandatos por dez anos, já que estava cassado. Foi díficil ficar contra os governos militares?
Elísio Maia – O que os militares queriam, eu não aceitava. Fui cassado sem direito a negociar. Nem nos bancos eu podia entrar com pedido de financiamento. Tive que fechar duas usinas de algodão. Mas não parei de fazer política. Um dia os militares reclamaram. Disse a eles que para eu parar tinham que me prender, o que nunca aconteceu. E eu nunca passei para o partido deles, como eles queriam. Eu disse que não ia porque não sou cabra sem-vergonha. Na época, eu era deputado estadual pelo PSP, do Adhemar de Barros.
Folha – O que o levou a apoiar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na campanha presidencial de 89?
Elísio Maia – Votei com o Lula nos dois turnos. Fiz minha análise e vi que o Fernando Collor não daria certo. Enquanto ele foi governador de Alagoas, nunca passei na porta do Palácio do Governo.
Folha – Apesar de ter votado no Lula, o sr. não subia no palanque do PT e chegou a promover um comício na mesma hora, dia e local em que acontecia o comício dos petistas. Por que o sr. armou seu próprio palanque? O sr. não se sentiria bem no palanque do PT?
Elísio Maia – Faço política por mim mesmo. Se eu errar, a culpa será minha. Não subi no palanque porque não gosto de atacar ninguém. Então, não podia me misturar.
Folha – O sr. votaria novamente no Lula para a Presidência?
Elísio Maia – Não, não. Não tenho vontade nenhuma de votar no Lula novamente. Vou escolher outro candidato.
Folha - E quanto a "chacina de Tapera" em 86?
Elísio Maia - Não vou falar disso. Nunca admiti que me desmoralizassem.
(AC)

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