São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994 |
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Coronelismo veio com a República
DA AGÊNCIA FOLHA Os latifundiários recebiam as patentes de major, coronel e capitão. "Esse costume de chamar determinado político de major, coronel e capitão perdura até hoje no interior nordestino", afirma o professor.Ele diz que no Império o sistema encontrou obstáculos porque o poder era centralizado no Rio de Janeiro. Na República, houve a descentralização do poder, transferido para os Estados, e o fortalecimento do coronelismo, que controlava a cobrança de impostos, as obras públicas, o crédito, a Igreja e a Justiça. "Era o poder familiar. A família dos coronéis estava em todos os setores", diz Melo. Segundo ele, o coronelismo se concentrava nas grandes propriedades do Nordeste, principalmente na Bahia, Ceará e Pernambuco, e foi contido com a Revolução de 30. Um dos motivos da revolução foi a revolta dos coronéis da Paraíba contra a política do presidente (governador) do Estado, João Pessoa, de retirar-lhes o poder. "João Pessoa começou a retirar o poder das mãos dos coronéis e foi assassinado", disse Melo. No plano federal, o governo Vargas adotou prática semelhante à de João Pessoa para neutralizar a força dos coronéis. João Pessoa foi candidato a vice na chapa de Vargas em 30. O professor diz que antes de João Pessoa iniciar o desmantelamento do coronelismo, sua família dominava tudo na Paraíba e teve o "supercoronel" do Nordeste, seu tio, o ex-presidente da República Epitácio Pessoa. "Epitácio foi um coronel clássico, que vivia na Europa e no Rio de Janeiro e controlava tudo na Paraíba à distância", disse. O professor afirma que o coronelismo sofreu um golpe duro a partir de 1930, mas não teve a estrutura agrária tocada, "o que fez com que eles começassem a se aliar ao governo para continuar tendo influência na política e na economia dos Estados". "Os coronéis perceberam que poderiam utilizar o Estado em proveito próprio", disse. Segundo ele, a principal característica dos coronéis, a truculência, desapareceu aos poucos. Para Maria de Lourdes Mônaco Janotti, 55, professora da USP (Universidade de São Paulo), da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e autora de "O Coronelismo – Uma Política de Compromissos", o que hoje os coronéis mostram de mais moderno é a capacidade de adaptação. "O coronelismo não está necessariamente ligado à violência. Há coronéis que se caracterizam por uma relação paternalista", afirma. Segundo ela, nas regiões onde prevalece a miséria o coronel funciona como um intermediário entre o Estado e o cidadão para que este tenha acesso aos direitos de cidadania (educação, assistência médica ou até mesmo a obtenção de uma simples carteira de identidade), direitos esses que ele próprio desconhece que sejam seus. "É uma relação de favores, interdependência", diz. A contrapartida aos favores é o voto. De acordo com a professora, os "laços de solidariedade" que se estabelecem entre o coronel e o cidadão dão origem ao paternalismo e "garantem o exercício, entre aspas, da cidadania". Texto Anterior: Coronelismo continua vivo no Nordeste Próximo Texto: Maia votou em Lula em 89 Índice |
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