São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Reação de Benevides faz CPI mudar tática

Comissão distribuirá documentos sobre deputado

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reação do deputado Carlos Benevides (PMDB-CE) ao seu pedido de cassação está provocando uma ofensiva dos membros da CPI do Orçamento. Dentro da nova estratégia, eles vão distribuir a partir de amanhã aos relatores da Comissão de Constituição e Justiça todos os documentos reunidos pelas quatro subcomissões da CPI –os textos até então eram considerados de acesso restrito. "Já que a tática é destruir o relatório, nós vamos mostrar que ele está embasado em documentos", disse o deputado Roberto Magalhães (PFL-PE), que ocupou o cargo de relator da comissão.
A decisão de divulgar os documentos foi tomada após Carlos Benevides e seu pai, o senador Mauro Benevides (PMDB-CE), terem distribuído a parlamentares fitas de uma sessão reservada da CPI. Na gravação, Magalhães afirma que está sofrendo pressões para que Carlos Benevides não depusesse. "Se não o chamarmos, fica parecendo que o que prevaleceu foi realmente o prestígio do pai", diz o relator.
Para Benevides, o fato de divulgar os documentos da CPI não altera em nada a sua disposição de atacar o relatório, até porque ele próprio admite que já tem em mãos todos esses papéis. "Não adianta, eu vou espernear até o fim porque o meu pedido de cassação foi político." O deputado está preparando um folheto com as acusações da CPI e os seus argumentos de defesa para fazer distribuir entre os congressistas.
No centro da questão está o erro, já admitido pela CPI, na totalização da movimentação bancária de Carlos Benevides. O relatório registrou a entrada de US$ 2,39 bilhões nas contas do deputado de 89 a 93 –se trata, na verdade, de CR$ 2,39 bilhões. "É claro que houve má fé, pois o valor real é equivalente a US$ 800 mil, que é compatível com a minha renda."
Magalhães afirma que tudo não passou de um erro de digitação. "Não poderia ser US$ 2,39 bilhões, porque nem o mais biliardário empresário tem essa movimentação bancária." O senador Jarbas Passarinho (PPR-PA), que foi presidente da CPI, afirma que no dia 21 de janeiro, quando o relatório estava sendo lido em plenário, Carlos Benevides o procurou para apontar o equívoco. "Eu quis fazer uma errata, mas ele não aceitou, alegando que isso ajudaria sua defesa na Comissão de Constituição e Justiça."
O deputado confirma: "O erro foi constatado por mim e o senador colocou todas as dificuldades do mundo para alterá-lo, como se o relatório fosse uma Bíblia sagrada, um verdadeiro dogma."

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