São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994 |
Texto Anterior |
Índice
Cliente usa senha para sair com 'famosas'
ARMANDO ANTENORE
conversa, a reportagem a tratasse por Anastassia. Não é exagero comparar Anastassia à norte-americana Heidi Fleiss, jovem de corpo esguio que a imprensa dos EUA apelidou de "madame Hollywood". Como Heidi, Anastassia dirige uma agência que –oficialmente– fornece "recepcionistas" para coquetéis e congressos. Na verdade, a agência encobre uma rede de prostituição, onde as garotas de programa são atrizes e modelos famosas. Em Beverly Hills, quem quiser passar uma noite com as meninas de Heidi tem que desembolsar no mínimo US$ 1,5 mil. Pelas meninas de Anastassia, em São Paulo, paga-se mais: entre US$ 2 mil e US$ 5 mil. A clientela de ambas compõe-se de políticos, fazendeiros, empresários, atletas e artistas. Nos EUA, Heidi Fleiss responde cinco processos, quatro por proxenetismo e um por tráfico de cocaína. No Brasil, Anastassia inaugurou a agência em 1981 e nunca teve problemas com a Justiça. Tem, entretanto, problemas de consciência. "Ganho uma fortuna, mas me envergonho do que faço. É pecado. Pretendo largar tudo em dois anos e abrir uma rede de pizzarias." Senhas Não basta dinheiro para sair com famosas. É preciso conhecer as "senhas". Sempre que um novo cliente procura Anastassia, ouve a pergunta: "Quem passou meu telefone?" O novato tem que dizer o nome de alguém que costuma usar os serviços da agência. Se não disser, a conversa pára por aí. Se disser, Anastassia vai checar. "A alma do meu negócio é a confiança. Quando o cliente prova que tem bons amigos, mando fotos de meninas para que possa escolher direitinho." Os encontros com as garotas acontecem, geralmente, em hotéis cinco estrelas. O pagamento é adiantado. O negócio, ainda que lucrativo, exige muita dedicação. A agência funciona em um quarto-e-sala no centro de São Paulo, onde há três linhas telefônicas e um computador. Anastassia trabalha sozinha, diariamente, das 10h às 23h. "Não é seguro contratar funcionários." No computador, arquiva o nome dos clientes. "São centenas. Pessoalmente, conheço uns dez. Os outros só falam comigo por telefone. Muitos (60%) têm mulher e filhos." Também no computador, ficam os nomes das garotas. Grande parte das meninas têm entre 18 e 25 anos. "Passou dos 25, fica difícil arrumar boas transas." A dona da agência costuma embolsar "uns 30%" do que cada jovem recebe por programa. Paulista, Anastassia se diz muito católica: "Sou devota de Santa Edwiges e Nossa Senhora Aparecida." Casou-se em 1988 e tem um casal de filhos. "Só dormi com dois homens na vida: meu marido e um namorado." O marido, aliás, sabe do que Anastassia vive. Sabe e usufrui: os rendimentos da família vêm da agência que a mulher administra. Anastassia não informa quanto fatura por mês. Mas dá pistas: mora no Morumbi, em uma casa de quatro andares. Tem carros de luxo e um barco. Cria cavalos mangalarga, costuma viajar para o exterior e dedica uns dias por ano à pesca no Pantanal. Filha de lavradores, nunca descuidou dos estudos. Fala inglês, espanhol e italiano. Arranha o francês e o alemão. Veste-se com elegância. No dia da entrevista, trajava um conjunto de calça e blusa beges, em estilo militar. A marca: Yves Saint-Laurent. Texto Anterior: "Assassino é gay também" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |