São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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"Black" gira menos de US$ 15 milhões

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O volume de dinheiro girado no mercado paralelo do dólar já foi de US$ 100 milhões ao dia. Mal chega aos US$ 15 milhões, hoje. Como reflexo disso, doleiros tradicionais montaram bancos, como o Dimensão, Operador e Rendimento. A Casa Piano se sustenta no Rio de Janeiro, mas os tempos áureos acabaram.
"O que ainda movimenta esse mercado é o dinheiro do radinho de pilha na fronteira com o Paraguai e do povão que não tem acesso a conta em banco", diz Blanche. "Tem ainda o dinheiro do contraventor, da viúva e do aposentado. O dólar virou mercadoria de segunda classe", acrescenta o advogado Sérgio Eskenazi, do escritório Eskenazi & Pernidji.
Para alguém fechar um negócio de compra de US$ 1 milhão, terá dificuldades. "Ele vai conseguir, mas vai levar algum tempo até o cambista conseguir juntar a soma", conta Eskenazi. Segundo Arnim Lore, ex-diretor da área internacional do BC, o esvaziamento do paralelo começou a acontecer quando o governo criou o mercado de câmbio flutuante, em 1989. "Já fazem cinco anos e desde então o paralelo se tornou um item marginal nos negócios", afirma.
O flutuante foi uma forma encontrada pelo governo de se introduzir no terreno dos negócios que se realizavam no paralelo. Legalizou as operações que se faziam irregularmente pelo "black" no mercado de câmbio-turismo.
Um dos exemplos de que o "black" caminha para o fim, sem poder de preservar os preços, ocorre com o cimento. O saco custava US$ 4,00 em 1988, quando o ágio entre o preço do dólar paralelo e oficial estava em 80%. Agora, ao comprar o produto, Walter Efemina, dono da Construtora Company e vice-presidente do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis), tem de desembolsar US$ 7,00.
"É a inflação no black", afirma Efemina. "Depois que o paralelo ficou abaixo do comercial, todos os insumos em dólar subiram de preço para se ajustarem." Desde 4 de janeiro o preço do comercial está mais caro que o do paralelo. Entre janeiro de 1990 e janeiro de 1994, o câmbio paralelo perdeu 165% da inflação medida pelo IGP-M, levou de 330% da taxa de juros praticada no mercado financeiro e o comercial deu uma rentabilidade 125% superior.
Segundo Nathan Blanche, presidente da Anoro (Associação Nacional de Câmbio e Ouro), o paralelo vai chegar ao seu ponto terminal quando o governo implantar a URV (Unidade Real de Valor). "As taxas de câmbio serão unificadas e o paralelo vai se tornar o câmbio do bandido", afirma. "E quem costuma comprar dólar para guardar pode fazê-lo diretamente no banco, sem problema", acrescenta Arnim Lore, ex-diretor do Banco Central.

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