São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Anderson diz que não força convocação

ANDRÉ FONTENELLE
DA REPORTAGEM LOCAL

Oito jogos, oito gols. Este é o balanço dos três meses de Anderson da Silva no Campeonato Francês, defendendo o Olympique de Marselha, o popular O.M. Anderson trouxe um sopro de vida a um clube que vive a pior crise de sua história, desde o escândalo de suborno que estourou no ano passado, após um jogo contra o Valenciennes. E criou um problema para o técnico Carlos Alberto Parreira: a imprensa francesa não se cansa de comparar o sucesso de Anderson no Olympique à má fase de Raí no Paris Saint-Germain. Já há quem diga que Anderson, artilheiro do Campeonato Suíço 92/93 pelo Servette, quer forçar sua convocação, o que ele desmentiu em entrevista à Folha. Anderson também defendeu Raí.
*
Folha - Fala-se na sua convocação para a seleção brasileira. Você sonha com isso?
Anderson da Silva - Todo jogador, quando está numa boa fase, sonha com a Copa do Mundo. E esse ano eu estou muito bem. Sonho com isso. Estou com esperanças. Quando eu estava no Servette, não pensava nisso. Pensava em sair e ter uma oportunidade, depois que vim para cá comecei a pensar nisso. Agora, estou dando tudo de mim para poder ir.
Folha - Foi difícil desempenhar no Olympique o papel de salvador da pátria?
Anderson - É, não foi fácil. Quando eu cheguei, todo mundo falava que tinha que mudar, que o time tinha que ganhar. Contavam todos comigo e era uma responsabiliadde grande. Eu gosto de responsabilidade, de desafios, e foi um desafio que eu venci até agora.
Folha - É justa a comparação entre o seu sucesso e o fracasso de Raí?
Anderson - Não. O Raí joga no meio. Eu sou atacante. E outra, o Raí saiu não faz muito tempo do Brasil. Eu já estou há quase dois anos fora do país. É mais difícil para ele, como para mim foi difícil no começo.
Folha - Raí disse que, pelo fato de você estar em um clube mais popular, tem mais chance de ser falado. Você concorda com ele?
Anderson - Concordo. Também concordo que, se ele estivesse aqui, seria até mais fácil, porque aqui é mais quente. Fala-se mais do Marseille do que do Paris St.-Germain e ele estaria mais em evidência.
Folha - Tem contato com ele?
Anderson - Não. Tenho mais contato com o Valdo, por telefone.
Folha - Acha que Valdo deve ser convocado? No Brasil, fala-se melhor dele que de Raí.
Anderson - Na França também. Ele é um jogador que, quando está em campo, a bola sempre passa pelo pé dele. Acho que ele merece uma chance na seleção.
Folha - O que você achou das declarações de Romário sobre Muller e Edmundo?
Anderson - Acho que quem tem que ver é o Parreira. Acho que nenhum jogador pode falar quem tem que ser escalado ou não. Cada jogador tem uma preferência para jogar com um ou outro, mas quem tem que decidir é o treinador.
Folha - Já entrou em contato com Parreira? Sabe se ele assistiu às suas atuações?
Anderson - Não. Ele ficou de vir –me disseram os jornalistas aqui da França– no jogo contra o Monaco, ele e o Zagalo. Mas, até agora, não veio nenhum dos dois. Folha - Você manda fitas para Parreira ver?
Anderson - Não. Eu não penso em mandar fita. Acho que, no Brasil, já começam a falar. Com o decorrer do tempo vão falar mais. Acho que não precisa mandar fita. Fica uma coisa não muito legal. Parece que estou forçando.
Folha - O time ainda está abalado pelo escândalo de suborno?
Anderson - Não, já mudou a situação. Está tudo na expectativa de se resolver agora. Mas ninguém fala mais nisso. O time está tranquilo. Aqui nem se comenta mais aquele acidente.
Folha - É verdade que o Servette ainda paga o seu salário? Você poderia esclarecer essa controvérsia?
Anderson - O negócio é que o Bordeaux quis me comprar quando eu estava no Servette, que disse que venderia, mas muito caro. Algumas semanas depois, o Servette me emprestou ao Marseille por seis meses, quase grátis (cerca de US$ 17 mil mensais mais o salário de cerca de US$ 9 mil por mês). E o Bordeaux acha que isso não é legal. Mas o contrato está legal, o Servette já mostrou os documentos na Fifa. O Bordeaux não vai protestar, não vai fazer nada.
Folha - É verdade que a Juventus de Turim está interessada no seu passe?
Anderson - (risos) Estou sabendo agora. Ninguém falou comigo.
Folha - Você já trabalhou com Zagalo. Sua relação com ele é boa?
Anderson - É, porque quando eu joguei com ele fui titular na equipe do Vasco. Depois não joguei tanto, porque o Bebeto voltou. Mas quando o Zagalo chegou, no primeiro jogo que ele fez, eu não era titular e ele me escalou.
Folha - Na época ele o comparou a Jairzinho.
Anderson - É, ele fez a comparação. Ele pedia para eu jogar com o estilo do Jairzinho. Mas não acho que o meu estilo seja como o dele. Ele jogava mais pela direita. Não tem nada a ver. Jogo como centroavante mesmo. Parecido, assim, tem a velocidade do jogo.
Folha - Você nunca mais falou com Zagalo, desde a época do Vasco?
Anderson - Nunca mais.

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