São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Hoje é dia do clássico de velhas histórias

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Santos vem de um desastre que por pouco não virou tragédia diante do Rio Branco. Levou um sufoco do primeiro ao último minuto de jogo e perdeu só de 2 a 0, graças a atuação do seu goleiro Edinho, o filho do Rei.
Já o Corinthians vem de um empate frustrante, em casa, contra o frágil Ituano, um desses pontinhos irrecuperáveis neste sistema de disputa.
Mas, pelo menos, os relatos de quem viu o jogo de sexta-feira asseguram que o Corinthians jogou bem, sobretudo no segundo tempo.
Logo, o Corinthians entra em campo hoje, diante do Santos, como franco favorito, né? Não necessariamente, embora seu time seja superior, independendo do recente retrospecto. É aquela velha história de que em clássico nunca há favorito. É acaciano, mas verdadeiro.
Aliás, por falar em velhas histórias, em Edinho e Pelé, sempre que esses dois times se cruzam, lembro-me daquela tarde ensolarada de domingo, quando me surpreendi espremido na geral (naquele tempo, tinha geral no Pacaembu, sim senhor). Ao meu lado, um crioulão de brilhante calva, camisa enrolada no pescoço. Quando a bola começou a rolar, simplesmente virou-se de costas para o campo. Naquele limiar dos anos 60, a galera era só corintiana.
E o crioulo guiava-se pelo silêncio tenebroso que caía soturnamente sobre o estádio cada vez que Pelé pegava na bola. Então, seu murmúrio tornava-se audível. O crioulão, sempre de costas para o campo, falava com Deus: "Meu Deus, por favor, quebre as duas pernas desse negão. As duas, Senhor. Por favor. As duas!"
Que o crioulo, se vivo estiver, não tenha hoje de repetir a prece herética, trocando os pés do pai Pelé pelas mãos do filho Edinho.

Ele não dá um pique de 20 metros, nem tenta alcançar a bola que lhe venha um centímetro acima do ninho de mafagafo que carrega no topo da cabeça à guisa de cabelo. Mas a bola procura seus pés com uma constância tal e tamanha fidelidade que parece feitiço.
Refiro-me a esse meia colombiano Valderrama, que distribui passes com uma precisão de computador. Chega ao extremo de imitar aquele fino sinuqueiro que, antes de meter a 7 na caçapa, dá uma olhadinha por sobre a mesa. Valderrama domina, espia à esquerda do marcador, à direita, e vislumbra numa floresta de pernas a que será abençoada pelo toque milimétrico.
Resumindo, trata-se de um refinado malandro de sinuca. E, como tal, capaz de dar um rabo-de-arraia como aquele contra o sueco e que determinou sua expulsão.
Expulso Valderrama no jogo de sexta-feira entre Colômbia e Suécia em Miami, ficou noite no gramado americano. E a bola murchou de tédio.

A derrota da Itália diante da França, em Nápoles, no meio da semana, pode ter sido providencial. Afinal, está mais do que provado que Arrigo Sacchi tem de rever seu esquema. Mesmo porque uma seleção italiana, hoje em dia, sem Lombardo não é uma seleção. É um desafio ao bom senso.

Num futebol carente de laterais-esquerdos canhotos e talentosos, é bom ficar de olho nesse Paulo César, do Rio Branco. Fez uma partida impecável contra o Santos na quinta-feira.
Mais que isso: revelou, além de fino futebol, muita personalidade.

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