São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Nuvem de gás e poeira dá à luz uma estrela-bebê

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

É apenas um bebê com menos de 10 mil anos. Ainda invisível, mal começa a brilhar. A proto-estrela VLA 1623 é, segundo estudiosos, a estrela mais nova de que se tem notícia. Um raio de luz que sai dela leva cerca de 500 anos para chegar à Terra, trazendo as marcas do seu parto e incógnitas sobre sua vida.
"Não é muito fácil estimar a idade de objetos tão jovens", diz Philippe André, autor de trabalho sobre a estrela publicado no "Astrophysical Journal" no ano passado. O astrofísico do Comissariado para a Energia Atômica, em Saclay (França), diz ser impossível saber exatamente quando a VLA 1623 nasceu. "Pensa-se que ela tem menos de 10 mil anos, mas isso não é tão preciso quanto a idade de uma pessoa."
Para deduzir essa idade, o francês, em colaboração com astrofísicos da Universidade Harvard (EUA) e da Universidade de Cambridge (Reino Unido), se baseou em dois indicadores: a temperatura e a massa da poeira ao seu redor.
"A idéia é que os objetos mais jovens são os mais frios. À medida que evoluem, a poeira ao redor se aquece, elevando a temperatura", afirma André.
Segundo ele, a poeira fria só emite luz em grandes comprimentos de onda, invisíveis. É por esse motivo que só é possível observar esses objetos através de radiotelescópios. "Objetos um pouco mais evoluídos começam a ficar quentes o bastante para emitir luz infravermelha. A fase seguinte é a de estrela visível."
Para dificultar ainda mais seu estudo, a maior parte da matéria que constitui a proto-estrela não está nela própria, mas em um casulo formado por pequenos agrupamentos ao seu redor. "São esses agrupamentos que conseguimos observar melhor".
Apesar da radiação fraca e difusa que emitem, os agrupamentos fornecem a segunda indicação usada para avaliar a idade do astro. "Tentamos comparar a quantidade de matéria no casulo e no centro. É uma espécie de ampulheta: em estrelas formadas, toda a matéria está nela própria; em estrelas mais jovens, a maior parte da matéria ainda está no casulo." No caso da VLA 1623, há mais material no casulo que envolve o embrião de estrela do que no seu núcleo.
Mas ainda há incógnitas em relação à estrela nascente. André nota a emissão de dois jatos do gás monóxido de carbono a partir da proto-estrela (veja foto), perfeitamente simétricos em relação a ela. São os únicos na nebulosa que contém a VLA 1623. "O jato bipolar parece desempenhar um papel fundamental durante a evolução da proto-estrela, limpando a poeira residual e seu envoltório de gás. Mas ainda não está claro como ele é ativado", escreveu o astrofísico em seu trabalho.

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