São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACM quer aliança com PSDB e PMDB

TALES FARIA
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, defendeu, em entrevista exclusiva à Folha, uma aliança eleitoral de seu partido com o PSDB. Se o plano econômico der certo, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, poderia ser, na avalição de ACM, o cabeça de chapa.
ACM quer incluir o PMDB na aliança e mostra simpatia pelo ex-ministro da Previdência Antônio Britto. Diz que –antes de o PFL se juntar ao PPR do prefeito Paulo Maluf, de São Paulo– Maluf terá que mostrar uma boa administração à frente da Prefeitura, o que ainda não ocorreu.
A entrevista foi dada no sábado, a bordo de um jatinho cedido pelo governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, no retorno de ACM a Salvador depois de participar do 4.º Encontro Nacional do PFL, em Recife. ACM –aclamado no encontro como candidato natural do PFL à Presidência– insiste que pretende se candidatar ao Senado, mas tentará a reeleição se o Congresso revisor liberar os atuais governadores a concorrerem novamente ao cargo.
*
Folha - Como o sr. vê o quadro pré-eleitoral?
Antônio Carlos Magalhães - Acho que é muito indefinido, na medida em que continua havendo uma única candidatura de fato: a do Lula pelo PT. Como ele nunca passa de um terço do eleitorado, não parece que chegará a se eleger com a maioria. O país está à procura de uma solução que não seja o Lula. Mas os que pensam assim ainda não encontraram o caminho. Aliás um caminho difícil de ser encontrado, não só porque existem muitos partidos disputando espaço, como também porque há muitos interesses e dificuldades pessoais.
Folha - Na reunião nacional do PFL havi uma parte do partido querendo lançar sua candidatura a Presidência. O sr. acabou dando um jeito para que isso não ocorresse. Por quê?
ACM - Seria precipitado. Em primeiro lugar o partido tem que concluir o seu programa de governo. Se o Brasil está numa fase péssima de desgoverno, cabe ao PFL mostrar ao país o tamanho exagerado do Estado e a má utilização da máquina pública. O partido pode mostrar isso, mesmo que em aliança com outras agremiações, desde que se mantenha o essencial do programa que estamos elaborando. E as alianças no primeiro turno talvez sejam a melhor solução, não só para o partido como também para o país. Daria para o PFL fazer alianças com quase todos os partidos. Quem quer fazer alianças não deve ter preconceitos. Não deve excluir ninguém.
Folha - Mas o que se deu para notar no encontro nacional do PFL foi um interesse muito grande na aliança com o PSDB.
ACM - A verdade é que o rumo dos partidos para essas alianças depende muito dos problemas locais. De minha parte, os casos locais não prejudicarão uma aliança nacional importante. O PSDB é um partido com vários nomes com os quais a aliança é viável. O ministro Fernando Henrique Cardoso, o governador Ciro Gomes (Ceará) e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, por exemplo, assim como os líderes do partido Mário Covas (Senado) e José Serra (Câmara) são nomes muito bons. No caso particular de FHC, ele evidentemente tem uma boa imagem na mídia, resistindo inclusive à inflação de 40% ao mês. Temo que se não for debelada a inflação, sua candidatura não possa resistir. Mas se debelar a inflação, ele se torna um forte candidato a Presidência em qualquer aliança.
Folha - E o sr. acredita que o plano econômico do ministro pode debelar a inflação?
ACM - Esse plano é melhor do que nada, mas só será bom se for feito paea durar. A verdade é que o plano já vem muito atrasado, deveria te sido apresentdo antes. A data de 28 de fevereiro é perigosa, orque marca os oito anos do plano Cruzado. O plano de agora não pode ficar com a marca de engodo do Cruzado, que se transformou em um plano eleitoral. Tem que ser duradouro e apontar para reformas mais profundas do Estado. Mas eu confio que o ministro não vi enganar a nação com seus economistas e tem chances de acertar. Até porque hoje há condições favoráveis que não existiam na época do Cruzado.
Folha - Nota-se um certo entusiasmo com o FHC que o sr. não tem com o prefeito Paulo Maluf, defensor da aliança do PFL com o PPR.
ACM - Não tenho preconceito com relação a nomes. Outro dia tive um encontro com ele e não serei obstáculo a qualquer aproximação. Mas não tenho por que lançar seu nome. Sei que ele tem arestas no PFL, que poderão ou não desaparecer dependendo do seu trabalho com nossos correligionários e de modificações que venha a demonstrar no exercício da Prefeitura de São Paulo. O Maluf precisa ainda apresentar ao país um programa administrativo em São Paulo que faça a nação confiar na sua fama de bom administrador. Na medida que ele se dedique mais à administração e menos a política, talvez seja capaz de conseguir.
Folha - Essa aliança inclui o PMDB do Quércia?
ACM - Não excluo o PMDB de A, de B pu de Q. Agora, o PMDB está extremamente desunido e uma aliança dessas seria mais viável com pessoas que unissem mais. Segundo eu tenho lido, o nome que une mais é o do deputado Antônio Britto (PMDB-RS). Mas também tenho lido que ele pretende concorrer apenas ao governo do Rio Grande do Sul. Bem, não me cabe entrar na economia interna do PMDB. Eles resolvam o problema interno deles e nós estamos abertos a alianças, sem excluir qualquer nome.
Folha - Essa abertura total do PFL às vezes causa estranheza. Foi o caso da aproximação promovida pelo líder do PFL no Senado, Marco Maciel (PE), com o governador Leonel Brizola. É praticamente impossível o sr. no mesmo palanque do Brizola.
ACM - Eu também acho. Mesmo com a habilidade so senador Marco Maciel acho muito difícil que isso se concretize. Mas continuo a dizer que não quero vetar ninguém.
Folha - Ou seja, o sr. está com a tese do líder do governo no Senado, Pedro Simon (PMDB-RS), de que deve ser feita uma ampla aliança anti-Lula.
ACM - Não quero a aliança marcada como sendo contra qualquer coisa. O Brasil não gosta dos "antis". Na Bahia, eu cresço na medida em que meus adversários são anticarlistas.
Folha - Qual seria o seu desempenho eleitoral nesse quadro?
ACM - Falo sempre da Bahia. Eu tenho uma situação bem razoável em meu Estado. Um Estado forte no contexto político nacional, com 7 milhões de eleitores. Acho que a sucessão terá que passar pela Bahia, e eu vou influenciar no que eu puder a fim de que o meu partido contribua para a melhor solução para o Brasil. Seja com o meu nome à frente, seja com outro nome. O que eu quero é que o país sai da situação em que se encontra.
Folha - Vamos entrar na revisão constitucional. O sr. está defendendo o direito de reeleição para os chefes de Executivo e a redução dos prazos de desincompatilização.
ACM - Eu pretendo concorrer ao Senado pela Bahia. Mas se houver reeleição, me candidato ao governo. Com muitas chances de vitória. Só que não acredito que essa regra passe no Congresso valendopara os atuais governadores. Quanto à redução dos prazos de desincompatibilização, se eu disser que estou alheio seria hipocrisia. Não estou lutando por isso, mas ficarei satisfeito se tiver mais três meses ou quatro para governar meu Estado. De qualquer maneira, me preparo para sair no dia 30 de março. Acho que os outros governadores pensam assim.

Texto Anterior: Prima de Itamar mora em barraco
Próximo Texto: Brizola destina US$ 13 mi para lançar candidatura à Presidência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.