São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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É a hora da catraca eletrônica?

CARLOS ZARATTINI

Com a realização da concorrência para escolha da empresa que vai implantar e gerir um novo sistema de arrecadação no transporte coletivo, através de catracas eletrônicas, a Prefeitura de São Paulo afirma que vai reduzir o custo do transporte na nossa cidade.
Para isso serão demitidos 20 mil trabalhadores, entre cobradores e outros funcionários, o que, segundo se afirma, representará uma economia de 25% do custo total.
Por outro lado, será contratada uma empresa para implantar as catracas e distribuir os bilhetes aos postos de revenda, recebendo 5,9% da arrecadação total durante oito anos, além da receita financeira obtida pelo tempo em que ficar com o dinheiro da renda.
Essa receita financeira não é nada desprezível, visto que, além da venda no "varejo", vai comecializar os vale-transportes para as empresas que o concedem aos seus empregados. Assim, a economia seria menor que 19%, pois a prefeitura renuncia à receita financeira. Resta saber se essa redução seria repassada aos usuários.
Por outro lado, se os bilhetes forem vendidos em bancas de jornais, padarias, etc., quanto será pago a esses comerciantes, ou quanto eles cobrarão a mais dos usuários, como fazem com as fichas da Telesp e com os cartões da zona azul?
A atual gestão não detém credibilidade na área de transporte. Afinal, foi eleita com a promessa de reduzir os aumentos tarifários e os subsídios às empresas. Mais de um ano após sua posse, mesmo tendo entregue as melhores linhas da CMTC às empresas privadas, a tarifa teve seu valor real dobrado e o subsídio continua na faixa de US$ 500 mil ao mês.
Evidentemente que os avanços tecnológicos modificam as funções, como está acontecendo com os ascensoristas e telefonistas, por exemplo. O que não se garante, e isso é um problema mundial, é que surjam novas funções na quantidade daquelas que forem extintas.
Dessa forma, o que se questiona é se um momento recessivo como o que estamos passando, com mais de um milhão de desempregados e sem perspectivas de crescimento para breve, é o ideal para a demissão de 20 mil trabalhadores. Isso tudo sem as garantias de que as tarifas sejam reduzidas.
É hora de aproveitarmos a campanha do Betinho pela criação de novos empregos e, com o cancelamento da licitação por suspeita de fraude, exigir a revogação dessa medida pela Prefeitura de São Paulo.

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