São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Especialistas recomendam curto prazo

DA REDAÇÃO

O mercado financeiro realizou na semana passada uma agitada dança de ativos. A tendência foi deixar aplicações de maior prazo, como os CDBs e as cadernetas de poupança, e buscar refúgio em aplicações de curto prazo –dólar paralelo, contas remuneradas, fundão e fundo de carteira livre.
Os especialistas recomendam para hoje ficar ainda em cima do muro, enquanto se aguarda a medida provisória que cria a URV (Unidade Real de Valor).
Segundo Alberto Alves Sobrinho, diretor da corretora Fair, nos planos anteriores houve refúgio dos investidores para o dólar. Desta vez, aguardar a criação da URV com dólares em mãos foi jogar contra um cacife alto que é a reserva internacional gerida pelo Banco Central, diz ele. Para Alves Sobrinho, não há perspectiva de valorizações expressivas do dólar no paralelo.
Diante disso, Alves Sobrinho diz que as únicas opções que sobram para quem quer fugir de eventual balizamento da URV são as Bolsas e os imóveis. A desvantagem dos últimos é a baixa liquidez.
As Bolsas perderam o fôlego, porém, a partir da última quinta-feira. Os negócios nas Bolsas refletiram não só a desarticulação política em relação à promulgação do FSE (Fundo Social de Emergência), como o temor da adoção de medidas restritivas à entrada do capital estrangeiro nas Bolsas de Valores. Os investimentos externos é que estão dando sustentação aos preços no mercado acionário.
Alves Sobrinho acredita que os juros vão ficar altos nos primeiros passos após a criação da URV, o que será um fator positivo para o plano. Nos outros programas econômicos, o governo não tinha a vantagem que tem agora, que é o caixa equilibrado. Ele diz que se o juro ficar alto, a dívida pública também vai crescer, mas dentro de um prazo curto –facilitando a estabilização. O juro alto também vai ajudar a inibir o consumo, diz Alves Sobrinho.
Sobre as alegações de defasagem cambial e necessidade de mididesvalorização, Alves Sobrinho diz que há metodologias diferentes. Segundo ele, essas metodologias podem estar todas corretas tecnicamente. Mas, segundo ele, o câmbio só precisa de uma valorização maior se o exportador não consegue exportar. E não é isto que está acontecendo. O volume de ACCs (Adiantamento de Contratos de Câmbio) está crescendo.
Para o superintendente de câmbio do BBA Creditanstalt, Luiz Fernando Figueiredo, o mercado espera que o câmbio vá ficar estável com a URV. Segundo ele, nos primeiros meses, o juro deverá ficar como está ou vai subir se for o caso de combater especulações de preços. Ele acha que o juro poderá subir caso haja uma inflação residual de fevereiro para março.
Em fevereiro, segundo a Andima, a taxa/over ficou em 0,86% real acima do IGP-M de 40,78% no período, ou seja, o menor nível de juros reais verificado desde junho de 1993, quando atingiu 0,32% no mês.
Segundo ele, a taxa de câmbio hoje é boa para a atual situação do mercado e dos exportadores. Ele diz que o câmbio não está defasado porque continua entrando muito dólar no país.
Figueiredo diz que os juros dos ACCs subiram porque aumentou a demanda pelas linhas de crédito no exterior. Até setembro, a taxa anual dos ACCs estava entre 4% e 5%. Hoje, varia em torno de 7% ao ano além da variação cambial.
Para Norberto Pinto Barbedo, diretor-financeiro do Banco BCN, a inflação em fevereiro deverá ficar, na média, em 39%. Para março, a inflação deverá ficar de um a dois pontos percentuais acima. O motivo é a sazonalidade, diz.
Quanto ao juro, Barbedo diz que nesta primeira fase do plano o juro real deverá ficar entre 1,8% e 2% ao mês.
Ele acredita que a inflação poderá subir de um a dois pontos percentuais antes da terceira fase do plano, que deverá acontecer em dois ou três meses. Aí, diz Barbedo, o juro será tão alto quanto menor for a credibilidade do plano, a monetização da economia e o ingresso de dinheiro na economia.
Para Francisco de Assis, diretor do banco Marka, a inflação em março deverá oscilar entre 39% e 40%. Quanto aos juros, eles deverão ficar entre 1,8% e 2% reais.
Hoje deverá ocorrer também leilão de NTNs com correção cambial e pela Taxa Referencial. O leilão dará importante balizamento para os juros da economia.
As incertezas quanto à implantação da URV prevalecem no mercado aberto, que, segundo a Andima, não espera que o programa se traduza em quebra de regras contratuais previamente estabelecidas. Há consenso de que a convivência com a URV ainda pressupõe juro real no mês de março.

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