São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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É hora dos cinco atacantes

CIDA SANTOS

Em pleno país do futebol, não dá para ficar imune à discussão da tese levantada pelo Matinas de colocar Edmundo, Muller, Bebeto, Romário e Dener o ataque da seleção. E o vôlei pode dar a sua contribuição. O esporte conta com a experiência recente mais bem-sucedida para reforçar essa idéia: craque não pode ficar no banco.
Você sabe como o técnico José Roberto Guimarães conseguiu tornar a seleção brasileira masculina campeã olímpica em Barcelona-92? Simplesmente porque resolveu inovar.
Nenhum dos dois técnicos anteriores da seleção tinha conseguido colocar no time titular os cinco principais atacntes do Brasil: Tande, Carlão, Giovane, Marcelo Negrão e Paulão. Com Bebeto de Freitas, Giovane ficou no banco. Com Josenildo Carvalho, Carlão acabou na reserva. Parecia um problema sem solução.
Zé Roberto matou a charada. Sabia que se fosse seguir as linhas do vôlei tradicional, com dois jogadores de meio-de-rede, dois atacantes especialistas de ponta e um atacante na diagonal do levantador, um desses ótimos atacantes ficaria no banco. Entre esses cinco, só havia um especialista de meio, Paulão. Os outros quatro teriam que lutar por três posições no time titular.
A saída foi ousar. Zé Roberto criou para Carlão uma nova posição no mundo do vôlei: o meio-de-rede não-fixo. Ele só faria uma passagem pelo meio. Marcelo Negrão, que nunca tivera bom desempenho no bloqueio, atuaria no meio nas outras passagens, apesar de nunca ter jogado antes nessa posição.
Resultado: o técnico conseguiu colocar os cinco craques no time titular, formou uma verdadeira artilharia com jogadas de ataque de todas as posições da quadra e inovou taticamente o vôlei. Mais: foi campeão olímpico.
Se no mundo do futebol não existe um esquema tradicional para encaixar os cinco atacantes, a saída é inovar. Cria-se um novo sistema.
Se o vôlei foi campeão olímpico com seus melhores atacantes na quadra, por que o futebol não pode ser campeão do mundo também com seus cinco craques no time titular? Se as características principais dos jogadores brasileiros, em todas as modalidades, são a habilidade, o talento e o prazer para atacar, por que desperdiçá-las?
A alegria –como dizia Oswald de Andrade– é a prova dos nove.

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