São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Luxemburgo enfiou a faca no próprio peito

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Que palpite infeliz! Mas também não dava pra adivinhar que Telê iria tocar na ferida tricolor, cicatrizando-a, de um dia para o outro, como num passe de mágica. Na véspera, depois de um treino lamentável dos titulares, Telê resolveu sacar do time Júnior Baiano e Axel. Manteve a dupla de área Gilmar-Válber, passando Cafu para o meio, dando espaço para Vítor na direita. Pronto. O time se ajustou feito mercúrio estilhaçado reajuntado.
Bola rolando, o São Paulo tomou conta do jogo e, em sete minutos, já havia perdido um gol e cavado um pênalti que o juiz não deu, pois César Sampaio cortou com o braço um cruzamento dentro da área. Já disse e repito: neste caso, especificamente, não prevalece a intenção. Mesmo que o jogador não queira usar o braço, se estiver com ele acima da linha da cintura é pênalti.
Tal era a vantagem tricolor em campo que, aos 12min, André escapou pelo meio, cortou um adversário e fuzilou de pé direito com perfeição. Mesmo com 1 a 0 no placar, o São Paulo não refluiu. O Palmeiras, sim, que, espicaçado, tentou reverter a situação, com um avanço temporário de Rincón. Resultado: Evair, numa arrancada pelo meio, em raro momento de indecisão da dupla Gilmar-Válber, disparou da entrada da área para empatar.
O Tricolor, porém, parecia possuído pelo domônio da vitória. Logo após, retomou o domínio do meio-campo, onde Cafu imprimia um ritmo alucinante, multiplicando-se por todos os setores, e voltou a investir sobre o adversário, que parecia ter perdido subitamente aquela segurança monolítica que vinha sendo sua marca no campeonato.
Com Cafu jogando por vários, Leonardo formava ala com André na esquerda e Vítor mantinha as estocadas intermitentes pela direita. O meio-campo palestrino não conseguia definir, afinal, quem marcar ou como, quando chegou o intervalo.
Então Luxemburgo enfiou a faca no próprio peito. Em vez de tentar uma jogada fatal, com a esperada entrada de Edílson, passando Mazinho para a lateral, como ele próprio a contragosto havia cogitado, preferiu reforçar o meio-campo com Amaral no lugar de Gil Baiano. Aí estabeleceu-se a confusão maior no setor. Nem Mazinho, nem Amaral decidiram quem cuidaria daquela área e, por ali, o tricolor deitou e rolou.
Tanto que, aos 9min, Euller se desprendeu por ali até sofrer pênalti de Roberto Carlos numa inversão absoluta de lado. Leonardo cobrou e determinou a vitória, que poderia ter sido ampliada dez minutos após, quando Válber se enfiou pelo comando do ataque, ou, já no finzinho, quando André soltou um canhão de fora da área defendido por Sérgio.
Vitória mais que merecida. Provavelmente, o marco da grande virada tricolor neste campeonato, pois além do golpe psicológico sobre seu maior rival, a equipe deus sinais claros de que sua formação é essa aí, até que Axel esteja definitivamente integrado ao grupo.

Mattheus, de líbero, é a prova viva de que o craque, o verdadeiro craque de bola e alma, joga –e bem– em qualquer posição. Mas, antes de tudo, é preciso ter intacto o espírito de craque. Sábado, Mattheus fez uma das mais irretocáveis exibições de toda a minha vida.

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