São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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'Shirley' não se liberta da origem teatral

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

Filme: Shirley Valentine
Produção: Inglaterra, 1989, 108 min.
Direção: Lewis Gilbert
Canal: Globo, 1h30

Shirley Valentine é uma mulher de meia-idade, entediada e entediante, cuja grande emoção na vida é conversar com as paredes. Tudo bem para uma peça de teatro (daí o filme foi tirado), onde a platéia funciona como a parede.
No cinema, a coisa é mais complicada. A opção pela estrutura teatral soa, num primeiro momento, como ousadia. Mas aonde ela nos leva? Quando outros personagens entram em cena, são estruturados com simplicidade franciscana.
O marido é um chato capaz de provocar uma tempestade só porque não tem carne para comer em determinado dia da semana. A filha é uma garota insuportavelmente mimada. E a própria Shirley, uma mulher que, por conta da família, acabou jogando para o alto sua vida. Para fugir ao círculo diabólico em que se encontra, decide partir em férias para a Grécia.
À narrativa inadequada, sucede-se assim uma situal trivial, a que Lewis Gilbert não se esforça para dar a menor concretude. Contenta-se em preservar a teatralidade das situações, e, com ela, o aspecto abstrato das personagens.
Claro, nada disso tem a ver com o conteúdo, segundo o qual –em linhas gerais– sempre é tempo para descobrir a vida. Mas sempre é tempo, também, para descobrir que generalizações não se dão bem no cinema, onde tendem ao discurso vazio. Isso, apesar dos esforços de Pauline Collins, que ganhou o Oscar de melhor atriz pelo filme. (Inácio Araujo)

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