São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994 |
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Onda 'new country rock' chega ao país
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
Quem lidera o pacote e o dimensiona rumo aos roqueiros é o cantor e violonista Travis Tritt. Chega com o álbum "Trouble", que se converte imediatamente em obra impagável, nos dois sentidos do termo. O homem veio da Geórgia, afeito àquele rock sulista e turbilhonado, que se chama nos EUA de "red neck rock". Travis escreveu um punhado de canções ao lado de Gary Rossington, guitarrista do Lynyrd Skynyrd, o que já lhe garantiu adesões imediatas. Também canta rouco, usa gaitas pentatônicas (de cinco tons), que são substituídas por violões de 12 cordas, sua marca registrada. Agrada certamente aos fãs de ZZ Top, Creedence, Steve Ray Vaughan e Johnny Winter. O ouvinte pode ter uma noção de toda essa lava logo na faixa "Blue Collar Man". Outro destaque do pacote é Dwight Yoakam, que completa dez anos de carreira e agora surge com seu álbum mais genial, "This Time". Fã confesso de Elvis Presley, é um herdeiro inverossímil dos anos 50. Canta blues, usa violinos em citações de "stomps" do Delta do Mississippi –e ainda coloca pitadinhas de Rolling Stones e silêncios bem à Ry Cooder. Faixas como "Fast as You" e "Two Doors Down" trazem a justa pretensão de redramatizar a estética country. Yoakam disputa, com sua urbanidade rural, o lugar ocupado por Willie Nelson. John Michael Montgomery entra no mês de março disputando o primeiro lugar da parada geral da Billboard. Enobrece o pacote porque não injeta passado em duas baladas. Toca música dos pântanos dos EUA com citações desordenadas e geniais de música caipira instrumental, a "hillbilly high tech". Seu "Life Is a Dance" foi feito para tocar nas rádios, de cabo a rabo. Assim, fica até parecendo que Montgomery é o mais convencional dos três. Porém, mais convencional que ele é Randy Travis, dono de dois prêmios Grammy –que vem tentando se juntar a essa nova onda. Seu "Wind in the Wire" é o mais sentimentalóide do pacote, se bem que adota rockabillys da década de 50 para se legitimar. Uma única faixa paga o disco, "Memories of Old Santa Fé', uma aula de como se cantar rouco sobre violões de metal, os National Dobros. Travis Lawrence é o mais pop do pacote. Começou a carreira em 91 e talvez disso resulte sua fixação pela "new wave" da música pop. O homem cita descaradamente Lloyd Cole, Pretenders e ainda põe temperos de Paul Mc Cartney. Seu "Alibis" é pau para toda obra, mas desagradará aos conservadores do gênero. Os mais inexpressivos do pacote são os Little Texas, uma espécie de Mr. Big da country music. Trata-se de um quinteto de músicos medianos, que não ousam nas melodias e nem abusam da técnica. Enfim: uma história para qualquer boi dormir. "Big Time" talvez seja uma obra recomendada aos que querem entrar no country pelos desvãos. Os seis CDs, em conjunto, canalizam em condutos bens específicos um público consumidor que, nos últimos anos, sentia falta de heranças tão díspares como Allman Brothers, rockabilly, Johnny Winter e guitarras eloquentes. Série: New Country Rock Lançamento: Continental Preço: CR$ 7.000 (cada CD, em média) Texto Anterior: 'Shirley' não se liberta da origem teatral Próximo Texto: Robert Cray esquece pop e volta ao blues Índice |
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