São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Atentado a bomba mata 10 em igreja do Líbano

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A explosão de duas bombas de morteiro em uma igreja católica maronita do Líbano, ontem às 9h (4h em Brasília), matou 10 pessoas e feriu 60, segundo a polícia. As duas peças de 82 mm, ligadas a um detonador, explodiram junto ao altar da igreja da Nossa Senhora da Salvação (Sayyidet al Najat), 12 km ao norte da capital, Beirute, durante a missa de domingo.
Foi o mais sério atentado a bomba no Líbano desde 1991, quando um carro-bomba matou 17 pessoas no setor oeste (muçulmano) de Beirute, no mês de dezembro. Um ano antes tinha terminado a guerra civil que se desenrolava desde 1975, um conflito sangrento entre diferentes facções de cristãos e muçulmanos que destruiu o país. O conflito de 15 anos teve o envolvimento direto de tropas de Israel, da Síria e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Entre os mortos no templo maronita –uma seita católica que tem predominado na política libanesa– estão uma menina de quatro anos e várias mulheres. O chão da igreja ficou coberto de sangue, pedaços de corpos e folhas da Bíblia.
Para o governo libanês, não foi apenas coincidência o atentado ter ocorrido menos de 48 horas depois do massacre contra palestinos na mesquita de Hebron, na Cisjordânia ocupada. O primeiro-ministro Rafik al Hariri, muçulmano, visitou a igreja logo depois da explosão e disse que ela foi executada por "mãos estrangeiras" para "encobrir" a matança em Hebron. Acusação semelhante foi feita pelo chanceler, o maronita Fariz Bouez.
O presidente do Líbano, Elias Hrawi, declarou luto oficial no dia de hoje e disse esperar que o atentado não seja capaz de lançar o país novamente na guerra civil. Autoridades policiais disseram que ainda não há suspeitos e que uma segunda carga explosiva, com quatro morteiros, foi desarmada.
O ministro da Informação, Michel Samaha, disse que o ataque terrorista pode ter tido por objetivo desencorajar a visita do papa João Paulo 2º ao Líbano, programada para o final de maio. Fundamentalistas muçulmanos vinham manifestando seu desagrado com a viagem papal. Falando na praça de São Pedro, no Vaticano, o papa condenou os dois atentados, em Hebron e na igreja libanesa. Este último, para João Paulo 2º, é "um crime que ofende o Líbano e suas nobres tradições".
EUA e França
O presidente norte-americano, Bill Clinton, condenou como um "ultraje" cometido por "extremistas" o atentado na igreja da Nossa Senhora da Salvação. "Assim como o massacre de sexta-feira em Hebron visava o processo de paz, este ataque a bomba parece visar claramente o processo de reconciliação do Líbano."
O governo francês também condenou o atentado. Segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores, foi "um ato de violência cega".

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