São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Fase danada

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – A eleição presidencial está na sua pior fase, que é aquela das articulações políticas de bastidores, da costura sigilosa de alianças, das rasteiras e baixarias entre adversários e correligionários. É a fase do vale-tudo que antecede a escolha dos candidatos pelos partidos.
É uma fase trágica para nós, eleitores. Imagino que para a grande maioria dos políticos este seja o momento de glória porque exercita o que considera uma virtude: a arte da esperteza, a política segundo os cânones herdados da velha tradição das raposas políticas. Há quem se orgulhe dos golpes que consegue imaginar e confunda artimanhas com estratégia.
A maior evidência da pobreza dessa fase é a inexistência de qualquer discussão séria sobre os problemas do país. Os candidatos a candidatos simplesmente ignoram os problemas concretos que somos obrigados a enfrentar. A revisão constitucional mal ou bem está acontecendo, mas ninguém conhece intervenções, mesmo que pontuais, dos candidatos sobre qualquer tema. Todos ignoraram olimpicamente as negociações em torno da aprovação do fundo. Não se sabe o que pensam sobre a URV.
E um programa para o país? É exigir muito, é apressado? Então, uma linha básica que aponte um futuro. Também é muito?
Há duas características principais nesta fase da campanha presidencial. A primeira, consequência da inexistência até agora de uma candidatura capaz de enfrentar Lula, é a busca desesperada (e às vezes cômica) de alianças antipetistas.
Há meses todas as análises políticas se baseavam na teoria da terceira via. Pressupunham que a bipolarização Lula/Maluf era uma ameaça para o país e que se devia buscar uma alternativa. Maluf ainda não emplacou, já mostrou sua fragilidade e busca-se agora não a terceira, mas uma segunda via.
A segunda característica desta fase é a ausência de debate político sério sobre os rumos do país. Os virtuais candidatos podem alegar que ainda não foram indicados. Isto não justifica, no entanto, a omissão. Mas reflete a inexistência, entre eles e seus partidos, de propostas amadurecidas de governo. Vão improvisá-las na fase seguinte.

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