São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Tudo terá um preço

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – A expressão "estelionato eleitoral" andou em voga por ocasião do Plano Cruzado. O fato é que a mágica do governo Sarney elegeu o PMDB naquele ano. Políticos que não eram bons de urna –como o atual ministro da Fazenda– foram eleitos. O congelamento deu votos e, quando o PMDB não mais precisava de votos, o congelamento acabou e tudo voltou a ser como antes ou pior do que antes. Poucas vezes se instalou, entre nós, uma arapuca tão eficiente e, ao mesmo tempo, tão indecente.
O ex-ministro Delfim Netto considera a URV e o atual plano da equipe econômica um novo estelionato eleitoral, desta vez para eleger o PSDB –que era o grupo com menos votos do primitivo PMDB.
A armação está montada com uma agravante: desde já, o PSDB –que detém o comando da equipe responsável pelo plano e pela URV– excetuou os preços da degola geral, coisa que o Plano Cruzado não se atreveu a fazer. De estalo, a injustiça já está cometida.
Evidente que o governo corre o risco de enfrentar greves e descontentamentos dos assalariados e, possivelmente, ações no Judiciário que mais cedo ou mais tarde pesarão no erário da nação –tal como aconteceu com o Plano do Bresser e de outros mágicos de circunstância.
O que me espanta, porém, é a desfaçatez com que o governo, através da equipe econômica, se credencia a receber abertamente a generosidade dos beneficiados. Se o ministro da Fazenda garante que o salário não perde com a URV, é lógico que os preços também não perderiam, uma vez que teriam a mesma atualização de valor, a mesma correção diária etc. Já o anúncio tumultuado e fragmentado da nova medida fez os preços subirem nesses últimos dias a patamares ultrajantes.
Para obter a aprovação do FSE no Congresso, o governo adotou a prática do dando é que se recebe –também em escala imoral. Para o futuro imediato, com eleições à vista, o PSDB já deu o que tinha a dar àqueles que também podem dar. Resta saber o que e quanto receberá de volta.

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