São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Saco sem fundos

O esforço de equilibrar as contas públicas deveria, em tese, ser de responsabilidade de todos as esferas do Estado brasileiro. Nesse sentido, só pode ser criticada a atitude da atual Prefeitura de São Paulo, que aumentou grandemente o seu endividamento desde o início do atual mandato para possibilitar a realização de obras públicas de grande visibilidade eleitoral.
De fato, esta Folha mostrou que a dívida em títulos municipais cresceu de US$ 643 milhões no fim da gestão Erundina para US$ 993 em outubro último. Ou seja, uma variação nada desprezível de 54%. Por outro lado, a dívida externa, defendida pelo prefeito no início do mandato por possibilitar um prazo de pagamento mais longo e taxas mais baixas, se manteve quase inalterada, crescendo apenas 1%.
Parece infelizmente tratar-se novamente da velha prática política de realizar obras –que tendem a render votos–, ainda que à custa da saúde financeira do Estado. A bomba, dessa forma, vai sendo legada para as gestões seguintes. Essa política, no entanto, possibilitou que os gastos com obras aumentassem 45% em relação a 92, último ano da administração Erundina.
Por outro lado, a forma como o dinheiro está sendo gasto também levanta dúvidas sobre se, afinal de contas, o endividamento vale a pena. Tome-se como exemplo o caso do túnel da avenida Juscelino Kubitschek. É uma obra de relevância no mínimo discutível, ainda mais na atual conjuntura do país.
A prefeitura diz que que a maioria da dívida em títulos recém-contratada será paga na atual gestão. É esperar para ver. Mas é bom lembrar que é notória a despreocupação de políticos tradicionais com o equilíbrio das contas públicas, sobretudo num ano eleitoral.

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