São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Programa não vai trazer recessão, afirma FHC

DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Programa não vai significar recessão, afirma FHC
Ministro diz que massa salarial vai crescer e descarta idéia de gatilho
O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, afastou ontem o risco de recessão como resultado do programa de estabilização econômica, segundo ele "um plano civilizado".
O ministro afirmou que "o compromisso do governo é não infligir perda aos assalariados, mas não é também de dar ganhos que provocam aquecimento indesejado da demanda".
Ele fez essas declarações depois de um almoço com empresários do setores de construção civil e imobiliário, ontem, em São Paulo, quando afirmou que a massa salarial global deve ter um pequeno crescimento como resultado da conversão pela URV. Isso deve evitar a recessão nesse momento "delicado", segundo ele.
Para o ministro, o gatilho para os salários "é uma idéia que não faz muito sentido". A sugestão foi apresentada pelo PPR (Partido Progressista Renovador) e pelo senador Odacir Soares (PFL-RO), presidente da comissão especial que examina a medida provisória da URV, sendo encampada também pelo presidente da Comissão de Trabalho da Câmara, Paulo Paim (PT-RS).
Aprendizado
Segundo ele, a sociedade precisa "limpar da cabeça a idéia da inflação". Ele acrescentou: "Vamos acabar com a inflação. Fazer gatilho para quê? A URV já é um gatilho automático, uma escala móvel." E acrescentou: "Subiu os preços (sic), subiu o salário automaticamente. Agora, quando vier o real, acabou (sic) a inflação. É isso que atrapalha o Brasil: ficar permanentemente pensando para trás e não para frente".
Ele atribuiu os pedidos de gatilho salarial ao fato de todos estarem passando por um processo de aprendizado da URV, que, disse, não é uma política salarial, mas uma conversão monetária dos salários. "Pela primeira vez na história do Brasil se tem um salário garantido em seu poder de compra, porque se os preços dispararem os salários disparam juntos", afirmou.
O ministro disse que está insistindo na URV, deixando a introdução da nova moeda para depois, para não manter para sempre as desigualdades salariais. "O mecanismo da média é necessário porque não dá nenhuma perda efetiva", afirmou.
Para FHC, o plano definiu a questão salarial da maneira que "mais poderia salvaguardar" a capacidade de compra para evitar o que houve no Plano Cruzado: "O Cruzado provocou uma pressão de demanda com o aumento inicial dos salários que não foi contrabalançado pelo aumento imediato da oferta que provoca uma alta de preços e, por consequência, acaba tirando o poder de compra dos salários", disse.
Itamar
Em La Guaira, na Venezuela, o presidente Itamar Franco disse ontem ser contra a criação do gatilho salarial. Segundo ele, não há necessidade de medidas desse tipo, porque o plano econômico não gerou perdas salariais. O próprio presidente afirmou que não discutiu a implantação da medida com o ministro Fernando Henrique Cardoso, mas admite que o governo pode negociar eventuais perdas através dos ministérios e das câmaras setoriais (que reúnem governo, empresários e trabalhadores).
Itamar pediu aos sindicalistas que não organizem greves sem tentar algum tipo de negociação com o Executivo. "Se provarem qwue há perdas, o governo evidentemente levará em consideradação", disse.
Ajuste
O ministro admitiu que o ajuste fiscal não está acabado, mas afirmou que a aprovação do FSE (Fundo Social de Emergência) significa a desvinculação de verbas para fins para os quais não havia dinheiro no orçamento. Com isso, disse, o governo não vai
precisar recorrer a empréstimos bancários.
Segundo ele, assim o Banco Central não vai ser obrigado a fixar permanentemente taxas de juros elevadas para manter seu fluxo de recursos para o funcionamento da máquina financeira. "O país que se financia a taxas de juros reais acima de 20% (ao ano) para seus gastos correntes provoca recessão", afirmou. "Fizemos o ajuste prévio para garantir que no orçamento de 94 possamos chegar a um déficit zero."

Texto Anterior: DRT convoca sindicatos para acabar com filas
Próximo Texto: Lula decide hoje se PT entra na revisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.