São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Intelectuais amenizam tom de críticas ao PT

Manifesto evita agravar crise interna

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O movimento de intelectuais e sindicalistas ligados ao PT reservou para o ato público feito no sábado à tarde as críticas mais duras à direção do partido. O manifesto do grupo, apresentado durante o ato a cerca de 250 petistas que foram à PUC de São Paulo, acabou não refletindo a acidez na fala de alguns dos líderes presentes. O descompasso entre o que se falou e o tom inócuo e vago do documento (leia a íntegra nesta página) revelou a preocupação do movimento em não se chocar de frente com a direção do partido, agravando a crise interna do PT.
A presença do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, era a mais aguardada. Vicentinho, que chegou ao ato com mais de uma hora de atraso, elogiou a iniciativa e manifestou sua "preocupação" com a postura da atual direção do PT. "Não podemos esconder que ficamos preocupados quando vemos a direção impedir a bancada de participar da revisão", disse.
Vicentinho buscou caracterizar o encontro como o "primeiro comitê nacional de apoio à candidatura Lula" e frisou mais de uma vez que não via o movimento como "um ato de deslegitimação da direção do partido".
A fala mais dura contra a direção partiu do cientista político Carlos Alberto Novaes, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). "Se não tivéssemos uma direção tão agarrada a princípios antigos, não estaríamos hoje preocupados com os estragos que uma candidatura de Fernando Henrique pode fazer naquela franja social do petismo que é sensível ao PSDB", disse. Foi aplaudido.
Comentando a fala da ex-secretária da Habitação de Erundina, Ermínia Maricato, que disse estar sendo processada por "inimigos políticos" em função de sua gestão sem ter nenhum apoio do partido, Novaes perguntou: "Por que a direção não nos informa sequer das perseguições que se faz contra os membros do PT? Será pelo fato de Luiza Erundina não pertencer à maioria precária que controla hoje o partido?". Mais aplausos.
Na mesma linha de Novaes, o presidnete do Cebrap, Francisco de Oliveira, disse que "'se o PT ficar preso em si mesmo e não perceber que não representa toda a sociedade, Lula será derrotado". O recado era para a direção do partido, que vem adotando uma posição restritiva em relação a alianças políticas com o PSDB.
Discursaram ainda durante o ato, entre outros, o cientista político Francisco Weffort, o economista Paul Singer, a psicanalista Maria Rita Kehl, o físico Luis Carlos de Menezes, o secretário de Relações Internacionais da CUT Osvaldo Bargas e o presidente do sindicato dos bancários Ricardo Berzoini. Estavam também presentes o professor da Unicamp e crítico literário Roberto Schwarz, o cientista político José Álvaro Moisés e os vereadores Maurício Faria e Chico Whitaker (PT-SP).
Ontem os organizadores do movimento entregaram uma cópia do manifesto, assinado por todos os presentes ao encontro, à direção do PT durante a reunião do Diretório Nacional do partido.

Texto Anterior: Carvalho cobra presença do governo no Congresso
Próximo Texto: Leia a íntegra do manifesto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.