São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Governo tenta importar cédulas de 5 países

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os presidentes da Casa da Moeda e do Banco Central reúnem-se esta semana com gráficas de cinco países (Japão, Estados Unidos, Suécia, Alemanha e Inglaterra) para tentar resolver um dos principais problemas do plano econômico: a substituição de 3 bilhões de notas de cruzeiros e cruzeiros reais por 2 bilhões de cédulas de reais.
O número de cédulas em circulação vai diminuir porque serão lançadas notas de maior valor. Hoje, a nota mais alta (CR$ 5.000,00) equivale a apenas US$ 7,27, quando as novas corresponderão a US$ 1, US$ 5, US$ 10, US$ 50 e US 100.
O governo quer importar 1 bilhão de cédulas, mas ainda não sabe se as gráficas estrangeiras poderão suprir essa necessidade e se há estoque disponível de papel-moeda no mercado. O cronograma de substituição do dinheiro vai depender da reunião, quando se saberá quanto elas poderão produzir e em que espaço de tempo. Não houve sondagem aos fabricantes de papel porque o BC e a Casa da Moeda querem que as gráficas assumam responsabilidade pela obtenção da matéria-prima.
A única certeza, até o momento, é de que a Casa da Moeda, sozinha, levaria cinco meses para suprir toda a necessidade de dinheiro em circulação. Sua capacidade máxima de produção é de 400 milhões de cédulas por mês. Mesmo que ela quisesse aumentar o ritmo, não teria papel-moeda para imprimir: seu único fornecedor, a Salto, do grupo Votorantin, já está operando com sua capacidade máxima de 400 toneladas por mês.
A Casa da Moeda ainda não começou a imprimir as notas de reais porque as matrizes ainda não foram aprovadas pelo presidente da República, o que deve ocorrer ainda no início da semana. Depois do Carnaval, a empresa praticamente suspendeu a produção de dinheiro e se dedicou ao projeto das matrizes das cédulas de reais.
Ao contrário dos planos anteriores que envolveram mudança de moeda, desta vez não haverá carimbo de notas. Esse expediente só foi usado nas vezes passadas porque as novas cédulas só eram projetadas depois da divulgacão dos planos. O artifício não será usado agora por dois motivos: as matrizes já estão prontas e seria um contrasenso gastar papel imprimindo modelos velhos. Explica-se: a Casa da Moeda não carimba notas usadas. Ela imprime notas novas, usando a matriz antiga com um carimbo incrustrado.
Danilo Lobo, presidente da Casa da Moeda, considera pouco provável que o governo substitua em um único dia todo o dinheiro em circulação, a não ser que as notas sejam depositadas em custódia nos bancos à medida que forem sendo produzidas. Dois bilhões de cédulas pesam duas mil toneladas e seria praticamente impossível transportá-las ao mesmo tempo para todos os pontos do país.
A substituição do dinheiro em poder do público tornou-se um problema para o governo porque parte da equipe econômica considera vital tirar os cruzeiros de circulação para romper a memória inflacionária e não quer que as duas moedas coexistam. Por outro lado, o momento ideal de fazer a conversão é quando a cotação da URV atingir CR$ 1 mil, o que, pelas previsões do mercado financeiro, ocorrerá entre os dias 10 e 15 de abril. Para conciliar as duas coisas, o governo teria apenas um mês para conseguir 2 bilhões de cédulas de reais, com uma produção própria de apenas 400 milhões.
No início da semana passada, o Banco Central informou que a substituição das moedas seria feita em prazo "curtíssimo", mas que as duas moedas poderiam conviver por algumas semanas. Na sexta-feira, o presidente do BNDES, Pérsio Arida, disse que a troca seria feita em 24 horas e foi contestado pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan, que qualificou a idéia de "inviável'.

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