São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novo caça pode reviver 'Barão Vermelho'

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma nova e simples tecnologia promete a volta na aviação de caça da era do "Barão Vermelho", o famoso "ás" alemão da Primeira Guerra Mundial que derrubou 80 aviões dos aliados ingleses e franceses e era conhecido por suas piruetas em um triplano Fokker vermelho. Desde então, os aviões de combate ficaram mais poderosos e bem mais rápidos, mas perderam a capacidade de manobrar que tinha o barão Manfred von Richthofen com seu velho avião de três asas e duas metralhadoras leves.
Neste momento, um caça norte-americano F-16 –o mesmo tipo que há alguns dias virou notícia ao derrubar aviões sérvios sobre a Bósnia– está testando a modificação em vôos e combates aéreos simulados sobre o deserto da Califórnia, perto da Base Aérea Edwards. Os testes devem durar ainda mais duas semanas, mas os resultados preliminares indicam que o F-16 MATV é mais manobrável que seus colegas que não têm o equipamento designado por essa sigla.
"MATV" quer dizer, no jargão da Força Aérea dos EUA, "Multi-Axis Thrust Vectoring", algo como "empuxo vetorizado multi-axial". Apesar do nome, trata-se de uma idéia muito simples: adaptar um bocal de escape dos gases do jato que seja móvel, com ângulo variável em relação ao eixo do avião.
Os jatos costumam ter o escapamento fixo e apontado para trás. A saída do gás em alta velocidade nesse sentido impele o avião para a frente, em sentido oposto. A nova idéia é usar o jato para controlar o avião, criando mais um fator que influencie a capacidade de manobra.
Por que tornar um avião de caça mais manobrável na era dos mísseis guiados? Em parte, porque o combate aéreo ainda tem muito da era do barão Von Richthofen. Vence quem vê primeiro –nem que seja por radar– e atira primeiro –nem que seja um míssil guiado pelo calor dos motores do adversário.
"Essa é uma pergunta complexa. Vai depender da capacidade do míssil e do avião. A manobrabilidade melhor ajuda a atirar com míssil também", disse à Folha o "pai" do projeto na Força Aérea dos EUA, o engenheiro Les Small. É ele quem cuida do desenvolvimento e avaliação da nova tecnologia, em um projeto conjunto com a Lockheed, empresa fabricante de aviões, e a General Electric, fabricante de motores.
"Imagine dois aviões se aproximando. Eles precisam mudar de posição rapidamente. Aquele que virar mais rápido, atira mais rápido e vence", afirma Small. O MATV permite ao avião fazer curvas mais apertadas e mesmo dar algo como um "cavalo-de-pau" no ar, forçando um caça perseguidor a seguir em frente sozinho e passando de caçador a presa.
Outra vantagem do MATV está no combate aproximado, aquilo que os anglo-saxões chamam de "dogfight" (literalmente, "briga de cães"). "Se você está perto demais para lançar mísseis, tem de recorrer aos canhões", declara Small. Nesse caso ganha aquele que se colocar, do mesmo modo como fazia o barão, atrás do inimigo e disparar.
Um rival forte ao MATV é uma nova tecnologia que inclui uma mira no próprio capacete do piloto, combinada a mísseis "inteligentes". Para visar um alvo o piloto deve apenas olhar para ele e lançar o míssil.
Outro problema é que canhões tendem a ser cada vez menos usados em combate. Na Guerra do Vietnã, caças da Marinha dos EUA abateram, entre 1965 e 1973, 67 aviões norte-vietnamitas, 60 deles por mísseis. Apenas sete foram derrubados com ajuda de canhões, e em somente quatro casos os canhões foram 100% responsáveis pela vitória. Por outro lado, a Marinha só conseguiu esses bons resultados usando as velhas táticas do barão –para isso ela criou uma escola de combate aéreo, a famosa "Top Gun", que até virou um filme com esse mesmo nome.

Texto Anterior: Governo tenta importar cédulas de 5 países
Próximo Texto: Britânicos usam jato direcional
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.