São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Cresce o número de jovens dependentes de crack

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI; GABRIEL BASTOS JUNIOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo de crack, mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio, antigamente restrito a menores carentes de rua de São Mateus, no extremo leste de São Paulo, se alastrou. Hoje o crack já invadiu as classes alta e média de São Paulo e é a droga que apresenta maior número de casos de dependência.
Segundo o Departamento Estadual de Narcóticos (Denarc), o número de encaminhamentos para tratamento por uso de crack aumentou cerca de 20% no ano de 1993 (com relação a 1992). No total foram 223 casos, dos quais 81 envolvendo jovens entre 16 e 18 anos. Só nos dois primeiros meses deste ano o Denarc apreendeu uma quantidade de cocaína equivalente ao total do primeiro quadrimestre inteiro de 93.
O crack também é a maior preocupação da Delegacia de Investigação sobre Crimes contra a Criança e o Adolescente. Segundo a delegada titular, Elisabete Ferreira Sato, 36, em 50% dos casos investigados –todos de homicídio– as vítimas estavam envolvidas com a droga.
"A droga está hoje em 'ascensão social', já é parte dos costumes da classe alta paulista", afirma Alberto Corazza, 55, delegado titular da Divisão de Prevenção e Educação (Dipe) do Denarc.
Uma amostra disto é o aumento de dependentes de crack em clínicas particulares, com alto custo de internação –o plano mais barato na Comunidade Terapêutica Maxwell, em Atibaia, sai por US$ 2.800 por mês.
Segundo Corazza, o perfil do consumidor de crack é dividido. Ele é um adolescente ou um profissional "bem estabelecido", com mais de 30 anos. "A droga hoje é consumida nos extremos da sociedade, tanto na classe mais baixa como nas esferas da classe A", diz.
Mesmo assim, a zona leste continua sendo o maior foco de origem dos usuários de drogas que procuram o Denarc (um total de 537 casos no ano passado), além de ter a maior incidência de crimes, segundo Elisabete Sato.
Outra característica do crack é que normalmente ele é efeito do que profissionais da área chamam de "escalada". "Nunca vi chegar aqui nenhum paciente que tivesse começado no crack", diz Flávia Garcia de Macedo, 36, psicóloga e coordenadora da equipe técnica da Maxwell.
Experimentar crack já é um risco grande demais. Além da droga ser ilegal, oito em cada dez "experimentadores" se tornam dependentes. Márcio (nome fictício), 23, dependente em tratamento há 14 meses na Maxwell já pronto para sair pela segunda vez –na primeira teve uma recaída–, concorda: "Ninguém tem controle com crack. A fissura é muito violenta."

ONDE PROCURAR AJUDA: Denarc - (011) 254-3245 (disc-auxílio); Maxwell - (011) 484-5566.

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