São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Venha experimentar as delícias paulistanas

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo, delícia de vida: tantos shoppings, cinemas, restaurantes, tipos, opções. Diretamente proporcionais, homicídios, latrocínios, cárcere privado, 171, sequestros. Uma força-tarefa, organizada tal qual uma frente ampla, atua em conjunto para combater o crime: Rota, Rocan, Decap, delegacia racial, da mulher, de homicídios, de entorpecentes, do consumidor, do menor.
Para concluir o trabalho, e incrementar a segurança da população, destacam-se as equipes do Fórum da Lapa, de Pinheiros, de Santo Amaro, do viaduto Dona Paulina, elementos da ágil, eficiente e justa estrutura do poder judiciário: Tribunais da Alçada, da Justiça, da Justiça Militar, Regional Federal, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Federal.

Minha rua, antes, uma flopada rua de Perdizes, mais próxima à vida interiorana que à de uma metrópole, caiu no bas-fond. Em janeiro, as estatísticas provam o crescimento da atividade jurídica: 15 roubos de carro, três sequestros, dois assassinatos (latrocínios) e uma tentativa de suicídio que provocou três vítimas: o sujeito que se atirou, e dois porteiros que tentaram segurá-lo.
Para a satisfação do comércio local –um borracheiro, uma padaria, uma farmácia e um veterinário– e para o orgulho de seus moradores, o nome da rua foi citado, num mesmo mês, três vezes pelos jornais; publicidade gratuita. Até ganhou dos locais um apelido carinhoso: "Sarajevo".

Maurício, um amigo meu, ouviu a frase preferência nacional, quando se despedia, no seu carro, de uma amiga: "Passe para o banco de trás!" Teve o prazer de fazer um tour pela cidade na companhia de três assaltantes, escutando, é verdade, Jorge Ben Jor, "para animar a festa".
Com um cartão de banco na mão e uma senha na cabeça, visitou caixas eletrônicos para sacar o dízimo, e entregar aos elementos. Tensão, só na hora de convencê-los de que não sabia a senha do cartão de crédito (você sabe a sua?). Foram três horas de muita camaradagem, e troca de elogios. Ouviu, dos assaltantes, histórias cabeludas, e o conselho: pare o carro em frente às guaritas, nunca na escuridão.
Venha, de uma vez por todas, desfrutar dessas delícias: São Paulo, quem viver, verá!

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