São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CD comemora 35 anos da Bossa-Nova

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Alguns dos carros-chefes da bossa-nova –incluindo "Chega de Saudade" na gravação de João Gilberto (a mesma que, em julho de 1959, lançou o cantor e deflagrou o movimento)– estão no CD que a EMI-Odeon está mandando às lojas para comemorar, pela data, os 35 anos daquele importante momento.
São 22 fonogramas que a gravadora guardou em seus arquivos, sem dúvida um dos dois mais expressivos da Bossa-nova (o outro seria o da Elenco, de Aloysio de Oliveira, hoje nas mãos da Polygram). A seleção foi feita por Ruy Castro, autor de outro "Chega de Saudade", o livro.
"Na verdade, um nasceu do outro", explica Ruy Castro. A capa do CD, por exemplo, reproduz a capa do livro, criada por Hélio de Almeida. "Só que um projeto desses, de selecionar 22 faixas, das centenas do catálogo da Odeon, é bem mais agradável do que gravar fitas para os amigos."
O próprio Ruy se corrige: as faixas selecionadas foram 44, já que a idéia inicial da EMI-Odeon era um CD duplo. O agradável do projeto deu lugar à angústia de cortar mais 22 faixas. Mas Ruy Castro, fiel aos seus critérios (escolher não só o mais representativo, mas também o mais raro), saiu-se bem.
O CD pode começar de forma óbvia (e inevitável). "Chega de Saudade" não poderia ficar de fora. Mas o restante do repertório põe ao alcance do público coisas há muito esgotadas. Ou seja, que saíram na época e não mais foram reeditadas, mesmo em LP. Claro, Ruy Castro esbarra no mesmo problema que preferiu não enfrentar em seu livro: o que é Bossa-Nova? A batida do violão de João Gilberto, as melodias e harmonias de Tom Jobim, as letras de Vinicius ou tudo isso ao mesmo tempo? Preferiu colocar num mesmo baú tudo aquilo que, não sendo exatamente joãogilbertiano, era considerado bossa-nova na época. Por exemplo, a pseudonordestina "Maria Moita". Ou "Obalalá" na versão de Norma Bengell. Ou ainda "Foi a Noite", com Silvia Telles, que é muito anterior a "Chega de Saudade". A gravação original de "Se Todos Fossem Iguais a Você", com Roberto Paiva, em 1956, também foi escolhida.
"É impressionante a qualidade sonora do CD", diz Ruy Castro sem exagerar. A recuperação digital da EMI-Odeon é das melhores feitas no Brasil. Graças a ele podemos ouvir, como nunca, o naipe de percussão que acompanha João Gilberto na faixa-título: Guarani (caixeta), Juquinha (triângulo). Rubens Bassini (bongô) e Milton Banana (bateria). "E é interessante notar, também, como as canções, mesmo as mais tristes, compõem um clima, no todo, alegre. A Bossa-Nova tinha essa característica".
O CD é dedicado à memória de Lúcio Alves. E fica como exemplo a outras gravadoras –como a Sony Music e a Polygram– que têm em seus acervos material de sobra para editarem antologias semelhantes. "Nenhuma seleção desse tipo é perfeita", reconhece Ruy Castro. "Eu, por exemplo, gostaria de ter incluído mais faixas instrumentais". Os bossanovistas também.

Texto Anterior: Tim Robbins evita rótulos
Próximo Texto: Estado de saúde de Mercouri fica mais grave
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.