São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Vai custar

Uma questão que já merece exame cuidadoso é a troca das cédulas de cruzeiros reais por reais. Trocar todo o papel-moeda em circulação pode parecer uma preocupação meramente operacional. Mas não é preciso muita imaginação para antecipar a enorme confusão quando todos que carregam cruzeiros reais tiverem de realizar a conversão.
Por isso mesmo há quem acredite que o governo fará a conversão no dia em que a URV valer exatamente CR$ 1.000. Dessa forma, os agentes poderiam continuar a usar as notas antigas, que simplesmente perderiam três zeros, mudariam de nome e poderiam vir a ser carimbadas, como já ocorreu no passado.
Entretanto, vários economistas contestam essa possibilidade. Afinal, há cálculos indicando que a URV valerá CR$ 1.000 na primeira metade do mês de abril. O prazo seria assim muito curto, pois o novo indexador poderia ainda não ter sido assimilado pela economia.
Além disso, o impacto psicológico seria bem menor. Afinal, já houve diversos cortes de zeros na moeda no passado, o que poderia acabar transmitindo a sensação de que esse plano não passa de uma reedição de tentativas anteriores.
Assim, talvez o governo devesse esperar mais para criar o real. No entanto, surgem aqui outros problemas. Se o governo proibir a utilização dos cruzeiros uma vez criado o real, então todas as pessoas teriam que correr aos bancos para trocar as notas de cruzeiro real. Para aqueles que possuem contas bancárias o problema é menos dramático, pois poderiam emitir cheques na nova moeda. No entanto, boa parte da população não tem acesso ao sistema financeiro, e teria que correr às agências para não ficar somente com a moeda velha.
Uma terceira hipótese seria aceitar a convivência por algum tempo das duas moedas e possibilitar transações com ambas. Contudo, se os preços serão cotados em reais, seria muito complexo efetuar a conversão para cruzeiros a cada compra. Seria preciso usar calculadoras nas operações mais triviais como pagar uma passagem de ônibus ou comprar um pão com manteiga.
Há, finalmente, a questão prática de imprimir em tempo as cédulas novas. O Banco Central já se prepara até para importar as notas.
Tudo isso mostra que a conversão não será simples. De um lado, a forma operacionalmente mais fácil implica uma pressa que atrapalha o plano. Por outro, esperar a melhor data para a criação do real pode complicar a conversão. Um dilema para o governo que poderá trazer, especialmente para a população de baixa renda, um custo adicional a pagar pela estabilização.

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