São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cabo-de-guerra

A luta contra a inflação traz consigo inúmeros problemas. Afinal, a convivência de tantos anos com altas taxas de reajuste de preços acabou por criar uma cultura através da qual as pessoas tentam sobreviver da melhor maneira possível a despeito dos desequilíbrios da economia. Agora, quando se tenta quebrar a inércia inflacionária, deve-se também quebrar certos hábitos.
Um exemplo são as negociações entre o comércio e a indústria. A indústria normalmente vende a prazo, embutindo em seu preço a inflação esperada no período. Assim, no caso de uma venda com prazo de pagamento de 30 dias, o comerciante acaba pagando em cruzeiros reais cerca de 40% sobre o preço à vista, para compensar a inflação.
O problema surge se, com a mudança de moeda, houver uma queda da inflação antes do prazo acertado para o pagamento. Dessa forma, parte dos 40% de acréscimo sobre o preço, que inicialmente eram correção monetária, acabam-se traduzindo em aumento real de preço.
O comércio portanto está evitando compras a prazo em cruzeiros reais. A alternativa seria a indústria passar suas tabelas de preço para URV. No entanto, se os preços a prazo, que embutem correção e juros, fossem transformados diretamente em URVs, haveria na verdade um aumento real de preço, uma vez que não se espera uma inflação alta em URV. Os comerciantes portanto não aceitam esse aumento.
A indústria poderia "deflacionar" seu preço antes de convertê-lo em URV. Porém, isso significaria abrir mão de seu "colchão" protetor contra eventuais controles de preços.
Com isso, as negociações caminham para um impasse, o que pode se traduzir em desabastecimento e mais dificuldades na adesão à URV. A continuar o impasse, as pressões sobre os preços podem se intensificar. O que seria ruim para o plano.

Texto Anterior: Desvio burocrático
Próximo Texto: PT X LULA; SABEDORIA ANIMAL; VIOLÊNCIA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.