São Paulo, quarta-feira, 9 de março de 1994
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Um calendário diferente

THALES DE MENEZES

Começa sexta-feira em Key Biscayne, ao sul de Miami, o Lipton International, o único torneio da temporada além dos quatro do Grand Slam que apresenta a disputa de chaves masculina e feminina, com US$ 3 milhões em prêmios. É uma chance de ver Pete Sampras e Steffi Graf no mesmo dia, pagando um ingresso só.
Além disso, o Lipton encerra a primeira fase da temporada. Não existe divisão oficial, mas quem acompanha o circuito pode dividir o calendário tenístico em cinco etapas, cada uma marcada pela predominância de campeonatos disputados num mesmo tipo de superfície. Como cada tenista tem adaptação maior ou menor a cada tipo de quadra, essas fases também mostram oscilações no desempenho dos jogadores. Cria-se a impressão de que um tenista joga melhor numa determinada época. Na verdade, o que influi é o chão onde ele está pisando.
O ano começa dominado pelo piso sintético do Aberto da Austrália, em janeiro. Até o Lipton, os principais torneios também utilizam piso sintético, a maioria em quadras abertas. Exemplos: Qatar, Sydney, Dubai, Roterdã, Indian Wells. Jogadores que vão bem nessa fase são Sampras, Jim Courier, Stefan Edberg, Michael Chang, Steffi, Arantxa Sanchez e Martina Navratilova.
Depois do Lipton, o circuito passa a viver a expectativa do Aberto da França, em maio, disputado nas quadras de terra de Roland Garros. Os principais campeonatos nesse período são disputados na terra, como Barcelona, Nice, Mônaco, Hamburgo e Roma. Neles reinam Sampras, Michael Stich, Thomas Muster, Sergi Bruguera, Andre Agassi, Steffi, Arantxa, Gabriela Sabatini. É nessa fase que os latino-americanos costumam jogar melhor, porque na América do Sul ainda predominam as quadras com piso de saibro e pó-de-tijolo.
Entre Roland Garros e Wimbledon, no final de junho, há um mês com muitos torneios em quadras de grama no Reino Unido. São torneios sustentados pela necessidade dos tenistas de buscar adaptação às difíceis quadras de grama, uma superfície na qual a bolinha desliza ao tocar o solo, quicando mais rápido e mais baixo. Nesse piso, os melhores são Sampras, Stich, Boris Becker, Agassi, Steffi, Martina e Jana Novotna.
Depois começa a quarta fase do calendário, a mais americana de todas. Os principais tenistas disputam torneios em piso sintético no calor do verão nos EUA, como Washington, Stratton, Cincinnatti, Los Angeles, Indianápolis e New Haven, culminando com o US Open em setembro. Voltam a aparecer os adeptos do piso rápido, os mesmos tenistas que se destacaram no início do ano.
Depois do US Open, o circuito se dispersa na América, Europa e Ásia, mas uma característica comum aparece: a maior incidência de torneios em quadra coberta, já que o inverno chega ao hemisfério Norte. E há tenistas que se adaptam melhor à visão de um teto sobre a cabeça, como Sampras, Goran Ivanisevic, Petr Korda, Steffi e Martina.
Além de explicar a oscilação dos jogadores na temporada, essa divisão expõe os defeitos de cada jogador. Teoricamente, Courier, Stich, Edberg e Martina têm a característica de jogar bem em todos os pisos, já que são tenistas "universais", com todos os golpes no repertório. Mas vão mal nos meses de abril e maio, porque não têm paciência para as longas trocas de bola nas quadras de terra. Já Pete Sampras e Steffi Graf ganham de qualquer um, em qualquer lugar.

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