São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Trabalho sem remuneração é rotina para 23,3% dos trabalhadores no PI

CLÍCIA CRONEMBERGER
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTOS (PI)

O piauiense Pedro Bezerra de Melo, 58, retrata com fidelidade o perfil dos 5 milhões de brasileiros que trabalham sem remuneração. Melo é caseiro de um sítio em Buritizinho, zona urbana de Altos, a 40 km de Teresina, no Piauí, Estado que tem a maior índice de trabalhadores não-remunerados –23,3% da população com algum tipo de ocupação. Não recebe salário e em troca do trabalho tem casa para morar e uma pequena faixa de terra para plantar o que come.
Melo trabalha desde os 10 anos e nunca pôde ir à escola. O único emprego pelo qual recebeu salário foi o de coveiro, na Prefeitura de Altos, entre 1986 e 88. Não lembra quanto ganhava. Deixou o emprego porque o salário não era suficiente para alimentar a família.
Se ganhasse um salário mínimo por mês, acredita que poderia comprar uma casa em Altos. "Ia viver sossegado." Melo afirma ter três sonhos: ver os filhos em "boa situação" para ser amparado quando não puder mais trabalhar, morar em Altos e ter o que comer.
A casa onde vive há seis anos tem 50 metros quadrados e três cômodos –sala, quarto e cozinha. Os móveis e utensílios são os mesmos do casamento, há 21 anos –quatro tamboretes (banco de madeira e couro), dois potes de barro, um rádio, duas panelas e cinco redes. A casa não tem luz elétrica ou água encanada. No quintal, ele cultiva arroz, feijão, tomate, coentro e cebolinha.
Melo tem oito filhos, mas só cinco moram com ele. A mulher foi embora há oito anos. "Eu era doente. Ela, uma mulher nova, foi embora." As três filhas também se foram.

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