São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Pesquisa mostra que Brasil tem 20 milhões de subtrabalhadores

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

Existe um país dentro do Brasil cujos habitantes desconhecem as condições básicas da cidadania. São 20 milhões de habitantes –quase a população da Jamaica– que estão desempregadas ou recebem menos que um salário mínimo por mês ou não recebem absolutamente nada pelo que fazem.
Este país da fome e da miséria foi "descoberto" pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), está no Mapa do Mercado de Trabalho no Brasil, elaborado pelo órgão a pedido do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que o lançou ontem no Rio para marcar o início da segunda fase da campanha da fome, agora dedicada à criação de empregos. Também foram lançados filmes publicitários para divulgar a campanha.
Embora impactante, este total de 20 milhões de desvalidos apenas reflete parte de uma cruel realidade: a de um mercado de trabalho absolutamente precário, com distorções incondizentes com o país detentor do 9º PIB (Produto Interno Bruto) mundial.
Os números que serão usados pela Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria Pela Vida impressionam: há no mercado de trabalho 1,9 milhões de crianças entre 10 e 13 anos, 31 milhões do total de 62 milhões de brasileiros ocupados não contribuem com a Previdência, a média salarial da mulher trabalhadora negra ou parda é a metade da renda das mulheres brancas. Na zona rural do Piauí, por exemplo, a média salarial de uma mulher negra chega a 30% do salário mínimo. Ou seja, pouco mais de CR$ 14 mil. Por mês.
Outro dado encontrado no relatório e indicador da precariedade do mercado de trabalho brasileiro refere-se à concentração da renda: quase a metade de todo o dinheiro proveniente do trabalho vai para as mãos de apenas 10% dos trabalhadores. No topo da concentração da renda, dentre os Estados, destaca-se o Distrito Federal, com a média salarial de oito salários mínimos, enquanto a média nacional é de 4,1. Lá embaixo, na base da perversa escala do subsalário, está o Piauí, com a média de 1,6 salário.
Pelo menos uma das estatísticas do IBGE permite um pouco de otimismo. A população trabalhadora brasileira apresenta razoável grau de instrução (a maioria, 64,5%, tem pelo menos quatro anos de estudo) e seria, portanto, facilmente qualificável.
Em Brasília, onde o relatório também foi divulgado, o ministro Walter Barelli, do Trabalho, afirmou que "o Brasil vive uma situação pré-capitalista".
Colaboraram as sucursais de Brasília e do Rio

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