São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Miséria é ciclo vicioso

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O emprego ilegal de crianças é um fiel indicador do massacre diário contra a infância e ajuda a explicar um dos maiores problemas brasileiros: a evasão escolar. O emprego revela como a criança é o tecido mais vulnerável da crise social: ganha os piores salários e não tem garantias trabalhistas. É frequente o registro de trabalho escravo ou semi-escravo no interior e em regiões industrializadas.
Apesar de frequentes as denúncias sobre atentados aos direitos da infância, os números de violências não param de crescer. Entre as vítimas aparecem cada vez mais meninas. A prostituição não aparece no mapa do IBGE como emprego, mas é uma das principais ocupações da menina carente. Dados oficiais mostram que haveria cerca de 500 mil meninas prostituídas –a maioria sem nenhum tipo de atendimento público ou privado.
Uma parte delas vive em regime de escravidão, aprisionada em bordéis do Norte e Norte, com conivência ou até participação da polícia. Nas cidades de praia constatou-se uma indústria de sexo para turistas, utilizando esquema policial e hotéis.
O emprego precoce ajuda a entender o ciclo vicioso da miséria –a criança não estuda e, portanto, não progride profissionalmente. A família exige que ela complemente a renda doméstica. Muitos, entretanto, são atraídos pelo crime organizado, que paga salários atraentes para os padrões locais.

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