São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Esportes? Os meus sais, por favor!!!

LUIZ DE FREITAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

No Brasil, quando se fala em esportes, todo mundo vira técnico.
Menos o coitado do estilista de moda.
A única ligação que o público faz entre o estilista e o esporte é o jogo de peteca. Mas a minha formação é outra...
Lá em Pau Grande, na Grande Rio, onde nasci, o esporte sempre fez parte da minha vida. Principalmente o futebol, porque se você ainda não sabe, o Garrincha também nasceu em Pau Grande. Precisa dizer mais alguma coisa?
Eu, desde tenra idade, via meus tios, primos e toda vizinhança de pernas de fora, correndo pra lá e pra cá, balançando as coisas atrás de uma bola. E eu acabei entrando nessa!
Na escola, nós garotos disputávamos os mais delirantes campeonatos. E o meu time, se não ganhava no tapete verde, ganhava na porrada. Sim, porque eu era um beque pra Nilton Santos algum botar defeito. É verdade que, nesta época, eu ainda não sabia direito se gostava mais do jogo dentro do campo, ou depois, das "peladas" que corriam soltas nos vestiários...
Mas deixei a bola rolar...
Chegou a Copa de 58. Pau Grande em polvorosa. Garrincha arrasando, a parentada e os vizinhos sentados ao redor do rádio, na sala, torcendo. Eu, com toda fleugma que o bom esporte bretão me dera, torcia feito um louco, como todo mundo. Mal sabiam os da galera presente que o responsável pelo decór do ambiente era o bequão aqui.
Era eu quem dispunha as toalhinhas da mesa, quem fez os arranjos florais, quem dispôs aquele detalhe no decote da minha irmã, quem fixou o coque da minha mãe etc, etc, etc... Mas a galera só notava mesmo as marcas dos chutes que arrasavam as minhas canelas nos tais campeonatos, que trago até hoje, evidentemente disfarçadas com algum pancake.
Bem, aquela seleção de 58... Garrincha, Vavá, Nilton Santos, Didi, Bellini (gente, de onde apareceu este Apolo de olhos azuis?) e o rei Pelé. O Feola soube escolher a dedo...
Como? O que foi, meu? Assustado por que? Você pensa que estilista só lê coluna social?
Bem, frescuras à parte, a Jules Rimet foi a primeira sensação que tive de que o Brasil era realmente uma força de norte a sul. E toda vez que eu passava em frente ao prédio da CBD aqui no Rio, até por volta do começo dos anos 80, eu jurava subir um dia e ver de perto aquela taça, talvez erguê-la como o Bellini fez, quem sabe beijá-la igual ao Pelé. Roubaram a taça. E derreteram...
Hoje, o esporte no Brasil está muito mais completo, e difundido.
Tem o pessoal do vôlei, os carinhas da natação, as meninas do basquete, o tênis, Fórmula 1, os esbaforidos do triatlon etc, etc, etc...
Mas tem também as barbies –-é, o pessoal do anabolizante, como todo brasileiro, sempre exagerado. Exageram sempre na dose, e estão sempre além da idade- limite...
Tem até a moda no esporte –uns uniformes horrorosos de norte a sul (poucos times escapam); tem o pessoal do skate, que usa tudo largo e grande (é tudo grande mesmo?). A aeróbica que dançou (agora é a tal hidroginástica). Como se pode notar, o Brasil é um país completamente esportivo.
Mas quando se pensa na nossa economia, na miséria do povo ou na pobreza mental dos nossos governantes...
Meus sais por favor!!!!

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