São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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O vestibular

SÍLVIO LANCELLOTTI

Do próximo domingo, 13 de março, até o dia 18, no super Instituto Cooper, de Dallas, Texas, Estados Unidos, a Fifa estará testando e selecionando os 22 árbitros e os 22 auxiliares que dirigirão os 52 combates da próxima Copa. O lugar dispõe das melhores instalações de treinamento físico e correlatas do planeta. Foi montado na década de 70 pelo dr. Kenneth Cooper, o idealizador de um sistema de avaliação atlética ainda jovem e quase sem equivalentes. Nada melhor para o que a entidade pretende com vistas ao Mundial: errar o menos possível na escolha dos seus mediadores.
Pela primeira vez em 64 anos de competição, aliás, a Copa dos EUA terá bandeirinhas de fato na escolta dos apitadores em vez de árbitros adaptados à função. Todos os candidatos, 30 mediadores e 30 auxiliares, passarão por um implacável vestibular com exames de múltiplas aptidões. Além dos inevitáveis testes de fôlego e de musculatura, haverá outros, cabulosos, de conhecimento de regras, de sua interpretação e até mesmo um complicado julgamento psicotécnico ao nível dos aplicados na Nasa, a organização que supervisiona o programa espacial do governo norte-americano.
Dois árbitros brasileiros concorrem a uma vaga entre os 22 finalistas: Márcio Rezende de Freitas e Renato Marsiglia. Passo-lhes previamente uma advertência que receberão, no curso de atualização, antes dos exames decisivos. De Joseph Blatter, o secretário-geral da Fifa, escutarão a seguinte frase, praticamente textual: "Estar numa posição de impedimento não significa, sumariamente, estar numa posição capaz de anular um lance de ataque. Deve-se apontar o impedimento apenas quando o jogador nele se coloca de maneira intencional, a fim de tirar vantagem em relação ao inimigo".
Para facilitar o entendimento, eu traduzo a prolixidade de Blatter: os árbitros não mais devem indicar o impedimento, por exemplo, quando a defesa, em sincronia, se adianta um passo e deixa o adversário no flagrante do isolamento. Nesse caso, é a retaguarda quem busca a vantagem. Azar, portanto, de treinadores que abusam da chamada linha do impedimento, como o italiano Arrigo Sacchi ou o holandês Dick Advocaat. E azar, idem, de árbitros, como os brasileiros, que invariavelmente dão razão à defesa quando se sentem com dúvidas em relação a uma jogada mais rápida e mais complexa.

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