São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Nova safra enriquece filmografia do neonazismo

ESPECIAL PARA A FOLHA

O paladino da luta antinazista tem mais a cara assustada do alemão Winfried Bonengel, o diretor do documentário explosivo "Profissão: Neonazista" do que do bom-mocismo hollywoodiano de Spielberg.
Steven Spielberg serve à causa humanitária com o seu novo filme ao reabrir as chagas do holocausto, mas é inevitável supor que a sua "Lista de Schindler" procura sensibilizar o lobby judaico na Academia de Hollywood para finalmente somar à sua vitoriosa carreira os indefectíveis Oscars que sempre o ignoraram, apesar de ele nos contemplar com delícias e campeões de bilheteria como "E.T.", Indiana Jones, "A Cor Púrpura" e as produções de "De Volta para o Futuro 1, 2 e 3".
Já Berlinger vive hoje com medo de voltar a viver na Alemanha depois de dedicar a sua curta carreira de cineasta à documentação do movimento neonazista que se alastra pelo mundo. Uma coisa é recriar em laboratório (ou estúdios) o passado com os horrores do nazismo. Outra é cutucar personagens da realidade com vara curta, como o repórter-cineasta Berlinger faz.
Processos"Profissão: Neonazista" revela a existência de uma rede internacional de simpatizantes que subvenciona com doações as atividades paramilitares de novos líderes fascistas. Denuncia também a indiferença do governo alemão diante do recrudescimento do movimento. A Alemanha unificada reagiu, desde novembro do ano passado, censurando a exibição do filme em vários estados da nova Alemanha.
Recusado pelo penúltimo Festival de Berlim, o documentário pode agora ser visto em Berlim mas, em contrapartida, Bonengel responde a vários processos por provocação e propaganda neonazista na Alemanha, o que foi denunciado em janeiro último no Festival de Roterdã pela Film Free Fundation como cerceamento à liberdade de expressão, ao lado de casos da Croácia, China e Vietnã.
Uma nova safra de filmes enriquece a filmografia sobre nazismo e neonazismo. O melhor de todos ainda é o documentário "A Arquitetura da Destruição", do sueco Peter Cohen (prêmio da crítica na 16ª Mostra Internacional de Cinema). Aborda a obsessão nazista de "embelezar" o mundo através da purificação racial ("ariana"). Vem também o novo documentário-paranóia alemão chamado "Nova Alemanha" com cinco episódios desconcertantes.
Num deles um jovem cineasta judeu tem medo que descubram a sua origem étnica através do seu pinto circuncidado. Em outro, fato que escapa aos registros da mídia internacional, tem-se o relato que dois punks surrados quase até à morte por neonazistas. Poucos sabem e o filme revela, os punks, na falta de negros, turcos e outros imigrantes desqualificados na rica Europa, são o saco de pancada predileto dos neonazistas.

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