São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Pelo caminho errado

Chacinas, massacres, esquadrões da morte, assassinatos, assaltos, furtos, brigas, a animosidade cotidiana das pessoas nas grandes cidades. O acúmulo e a exposição diária a tanta selvageria e incivilidade vai criando, no espírito dos brasileiros, uma verdadeira cultura da violência. E as pessoas acabam se acostumando com os níveis de brutalidade do ambiente em que vivem. Os mais tolos chegam até a acreditar que o remédio para acabar com a violência é mais violência, gerando um fantástico turbilhão de ódio.
Um cidadão de Londrina, por exemplo, teve o desplante de fazer publicar num jornal um anúncio classificado cujo texto –por sua absurdidade– merece reprodução: "Colabore para a melhoria do Cincão (região da zona norte da cidade): 'MATE UM MENOR INFRATOR'. Apoio: Comerciantes vitimados". A polícia paranaense agiu rápido e indiciou o responsável sob a acusação de incitação ao crime.
Apesar da sua absoluta inoportunidade, a publicação do classificado pode servir como um sinal de alarme, como um sinal de que a sociedade brasileira, a persistir nessa rota, pode estar penetrando uma senda sem volta. O mais grave não é que haja um cidadão que ouse pedir publicamente às pessoas que saiam por aí matando crianças e adolescentes –afinal, loucos existem em toda parte. O que realmente choca é saber que há quem compartilhe essa infeliz opinião e, embora não anuncie em jornais, financia os grupos de extermínio.
É preciso pôr um fim à cultura da violência. Se não se podem evitar massacres e chacinas, pode-se protestar quando estes ocorrem, forçando as sempre lentas autoridades a agir com determinação. Se não se podem evitar latrocínios, roubos e furtos, pode-se tentar diminuí-los votando em políticos realmente empenhados em construir um Brasil mais justo. A alternativa é a guerra de todos contra todos.

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