São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Chico festeja reencontro com a platéia

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor popular reencontra seu público. Seis anos após sua última temporada em São Paulo, Chico Buarque levou cerca de 2.000 pessoas ao Palace, anteontem à noite, na estréia de "Paratodos". Quase furiosa nos pedidos de bis, a platéia não deixou por menos: obrigou o cantor e sua banda a voltarem quatro vezes ao palco. Aos berros de "Chico" e "lindo", os mais fanáticos conquistaram mais sete números.
"De Volta ao Samba" –faixa do álbum "Paratodos" que abre a seleção de 24 músicas– parece ter sido composta por Chico especialmente para festejar esse retorno ao palco. "Pensou que eu não vinha mais, pensou /Cansou de esperar por mim /Acenda o refletor /Apure o tamborim /Aqui é o meu lugar /Eu vim", diz a letra.
Também não é por acaso que Chico apresenta seus músicos logo ao final do primeiro múmero. Se costuma dizer que no campo de futebol gosta de ver craques, no palco Chico demonstra o mesmo. Orientada pelos criativos arranjos do violonista Luiz Cláudio Ramos, a banda dá um show de suíngue e dinâmica, com destaque para a condução rítmica do bamba Wilson das Neves.
Tanto as composições mais recentes como os sucessos antigos de Chico são tratados com requintes harmônicos e rítmicos. Um bom exemplo é o novo arranjo de "Pivete". Não bastasse a inclusão do bem-sacado refrão "messiê have money pra manjar", a canção reaparece recheada de dinâmicas e quebras rítmicas sutis.
Outro elemento fundamental na armação de "'Paratodos" é o excepcional trabalho de iluminação. Chico também dá o crédito em cena, com uma tirada poética: "obrigado ao Ney que me ilumina". Num show estruturado com a forma de um recital, sem coreografias, textos ou mesmo conversas de Chico com o público, Ney Matogrosso consegue apenas com seus spots e canhões de luz criar movimentos, cores e texturas raramente vistos nos palcos brasileiros. Transforma o que nasceu como um recital discreto e intimista em um espetáculo exuberante.
Tão bem-amparado assim, Chico fica quase à vontade para apenas cantar suas composições e tocar seu violão –por sinal, só deixado de lado na hora do bis, quando até arriscou alguns tímidos passos de dança, no samba "Vai Passar" e no frevo "Não Existe Pecado ao Sul do Equador".
Só mesmo os mais surdamente saudosistas podem ter saído com uma ponta de frustração. Não foi desta vez que recordaram a singela "A Banda" –que Chico não canta ao vivo desde os anos 70. Mesmo assim, os mais nostálgicos não foram esquecidos: ouviram "Quem te Viu, Quem te Vê" duas vezes, engrossando o coro pouco afinado da platéia.
O "gran finale" (antes da maratona-bis) vem com "Paratodos", a deliciosa homenagem aos mestres da MPB. Só faltou lembrar a "Festa Imodesta", de Caetano: "Salve o compositor popular".

Show: Paratodos
Artista: Chico Buarque
Músicos: Luiz Cláudio Ramos (arranjos, regência e violão), Marcelo Bernardes (sopros), João Rebouças (piano e teclados), Jorge Helder (contrabaixo), Wilson das Neves (bateria) e Chico Batera (percussão)
Iluminação: Ney Matogrosso
Onde: Palace (al. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-4900, Moema, zona sul)
Quando: quintas, às 21h30; sextas e sábados, às 22h; domingos, às 19h30; até dia 10 de abril
Quanto: entre Cr$ 15 mil (setor 4) e Cr$ 40 mil (camarotes)

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