São Paulo, sábado, 12 de março de 1994 |
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XPTO cresce em ambição com 'Babel Bum'
NELSON DE SÁ
Já no início da década, com "Mega Mix", o XPTO indicava que queria vencer o "intimismo" das primeiras montagens, bem características dos anos 80. Toda uma cara dos anos 80, aliás, vai sendo deixada para trás, ainda que aos poucos. Segue presente, por exemplo, o predomínio da imagem, em prejuízo de qualquer diálogo mais concreto. Nem por isso "Babel Bum", o novo espetáculo do XPTO, depois de anos, chega a desacreditar da comunicação. De fato, muito pelo contrário. A trama, que acompanha o conflito de vários personagens muito bem definidos diante de uma iluminação em suas vidas –trazida em caixas, por anjos–, não poderia ser mais transparente. Sem perder, com isso, a grande força das imagens. Talvez a maior delas seja a do encontro entre o homem e o anjo, logo no início, abrindo a narrativa. Dá uma boa idéia da ambição temática que atingiu o XPTO, que começa a tratar, assim, do contato entre um mundo no seu limite científico –no caso, o homem é um astronauta– e um mundo de sonho, de anjos, de Deus. Não está distante da melhor dramaturgia de agora, no mundo. Não está distante de "Angels in America", do americano Tony Kushner, encenada com grande impacto –para o mundo inteiro– pelo britânico Declan Donnellan. Até mesmo a presença do anjo, até mesmo a cena do anjo, na sua aparição final, lembra "Angels in America". Nenhum problema, de plágio ou qualquer coisa assim. Uma e outra cena são belíssimas, de semelhante lirismo. Para tanto, o grupo XPTO arriscou. Além da bem conhecida delicadeza de alguns de seus personagens, que voltam nos dois engraçados bonecos que protagonizam "Babel Bum", apareceram outros, já nada engraçados. Como o anjo negro, que é capaz de assassinar a facadas o anjo que ousou transmitir aos homems as caixas com os sonhos e ambições deles. A cena é de dar medo. Osvaldo Gabrielli, diretor e roteirista do XPTO, está na fronteira do teatro de bonecos ou de animação com o teatro, propriamente –capaz de lidar com todos os seus elementos, o que não exclui as palavras. O amadurecimento do grupo, que chega agora ao décimo aniversário, parece estar pedindo o mergulho na interpretação e no texto. Seria o próximo degrau. Atores, não clowns. Título: Babel Bum Direção: Osvaldo Gabrielli Elenco: Anie Walter, Beto Andreeta e o grupo XPTO Quando: Quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h Onde: Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136) Quanto: CR$ 1.750 (quinta); CR$ 3,5 mil (sexta a domingo) Texto Anterior: JENNY TALIA Próximo Texto: Spielberg redige último capítulo da Bíblia Índice |
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