São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Plano candidato

Duas semanas depois do anúncio da URV, ainda são significativas as dúvidas em torno do plano de estabilização. A data do real, a forma como serão trocadas cédulas velhas por novas, a adesão até lá à própria URV, o grau de intervenção do governo nos preços e nos contratos, o aval efetivo do FMI ao ajuste fiscal alcançado –a lista é longa.
O mais plausível, considerando-se as dificuldades operacionais em curso, é reconhecer que haverá um período de dúvidas e conflitos até a proclamação do real.
Ocorre que esses impasses da política econômica vão coincidir no tempo com outros, de ordem política. Há alguns meses dizia-se que o ministro Fernando Henrique Cardoso, pilotando um plano que levasse à queda abrupta da inflação, seria um candidato imbatível. Ou seja, o plano fabricaria o candidato.
O tempo passou, a desincompatibilização aproxima-se e, na última semana, surgiram informações de que o ministro teria reconhecido sua candidatura diante do PSDB e do presidente Itamar Franco.
Essa situação, confirmada, é inversa à anterior, quando o candidato seria produto de um plano bem executado. E pode parecer a todos bem menos segura.
Saindo o ministro, abre-se uma espécie de vácuo de poder no Ministério da Fazenda. Seja quem for o sucessor, parece inegável que a saída de FHC, por si só, aumenta as incertezas. Afinal, o plano depende ainda de negociações árduas, no campo fiscal e salarial, para tornar-se crível e consistente.
Resta saber se, fora do ministério e antes do nascimento do real, o então ex-ministro será capaz de liderar uma aliança que viabilize não apenas o plano econômico, mas a sua própria candidatura. O plano –que parecia uma arma infalível para consolidar um candidato imbatível– acaba por revelar-se tão dependente de circunstâncias políticas insondáveis quanto a própria candidatura que, afinal, é lançada antes de o plano ter "dado certo". A evolução do plano dependerá cada vez mais do sucesso do candidato.

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