São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Empresa paulistana tem economia de US$ 1 mi/ano

Há mais de 60 anos no mercado, fabricante de cadeiras de barbeiro consegue reduzir custos, aumentar produção e melhorar as condições de trabalho

Quando ouviu falar pela primeira vez em Qualidade Total, no 1º Fórum Brasileiro de Qualidade Total, em 1989, o empresário Renato Ferrante ficou maravilhado. "Qualidade é tudo aquilo que satisfaz, ao contrário do que pensávamos", conta. Desde que adotou o programa, em 1990, a empresa economizou US$ 1 milhão por ano e aumentou a sua capacidade de produção com um quadro de funcionários menor e melhores condições de trabalho. Tudo isso sem perder de vista a qualidade de seus produtos.
Diretor industrial e neto do fundador de uma fábrica de cadeiras para barbeiros, a Gennaro Ferrante Ltda., Renato não tinha motivos para queixas na época em que participou do fórum. Bem ou mal, a empresa, instalada no bairro paulistano do Cambuci, se mantinha no mercado há 66 anos. No finalde 1980, contava com cerca de 80 funcionários, que produziam, em média, 400 cadeiras hidráulicas por mês. A mais barata podia servendida por US$ 200 e a demanda estava à altura da capacidade deprodução.
Havia alguns pontos desfavoráveis, mas que não chegavam a incomodar a diretoria. Um respeitável índice de rotatividade no quadro de funcionários devia-se à má política de recursos humanos. Empregado insatisfeito? "Manda embora." De toda a produção, 15% das peças apresentavam qualquer tipo de defeito e precisavam ser refeitas.
Despreparo
A partir da liberação das importações, prevista pelo Plano Collor em 1990, Ferrante voltou os olhos para as suas peças, constatou que a empresa teria de competir com o mundo e que não estava preparada para isso. O seu produto era mais caro, feio e ultrapassado. O primeiro passo, conta Ferrante, foi adquirir tecnologia com uma empresa européia. Mas o preço para fabricar uma cadeira moderna nos moldes antigos de produção ficou inviável.
Foi nesse contexto que o "vírus" da Qualidade Total estalou na cabeça de Ferrante e disseminou-se pela fábrica. "Tivemos uma revolução e reeducamos as pessoas para que fosse possível mudar de mentalidade", conta. O objetivo era modificar e controlar os processos de fabricação para a execução dos novos projetos. Issoo correu após reuniões com supervisores e treinamentos com funcionários, extensivos também aos fornecedores.
"No controle dos processos de fabricação, é imperioso o envolvimento de todos", avalia Ferrante. É por isso que o fornecedor, por exemplo, precisa estar comprometido com a idéia. Segundo ele, não basta ter preço acessível. É necessário se engajar e ter noção da importância da sua participação porque influi no resultado final do trabalho. Nesse caminho, a empresa reduziu em quase 50% o númerode funcionários, não apenas com cortes no quadro mas também com a terceirização das atividades não-estratégicas.
Redução de trabalho
A medida proporcionou uma economia de 5 mil horas mensaisde trabalho, além das despesas relacionáveis. "Dos empregados, 70% tornaram-se multifuncionais", afirma Renato. A empresa conta hoje com 48 funcionáriosque foram treinados para várias tarefas e, dessa forma, não passam problemas para os outros. Com oconhecimento de todas as etapas da linha de produção, o funcionário sabe que se uma peça não for bem soldada o defeito fica evidente na montagem da cadeira e ela terá de ser refeita.
Assim, as despesas com assistência técnica para produtos com garantia ficou próxima de zero nos últimos sete meses, contra 5% que voltavam para concertos em toda a produção. A cadeira mais barata pode ser vendida hoje por US$120.
Terceirização
A contratação de uma empresade transportes gerou umaeconomia de 30% -a fábrica mantinha dois veículos para entrega,com dois motoristas e dois ajudantes. O mesmo ocorreu com o setorde tapeçaria, hoje desativado, queabrigava oito tapeceiros. "Os custos baixaram e a qualidade melhorou", afirma Ferrante.
Outras três pessoas foram dispensadas com a informatização da área administrativa e o quadro de marcineiros e de galvanoplastas foi reduzido à metade. Apenas o número de funcionários para atendimento ao cliente dobrou de três para seis. A empresa, que antes ocupava uma área de 4.000 m2, passou a funcionar em um único galpão de cerca de 2.000 m2. O outro imóvel está livre para locação.
Mas houve também a contrapartida ao enxugamento da fábrica. Segundo Ferrante, a carga horária dos funcionários baixou para 44 horas semanais, os salários estão 20% acima do piso da categoria, não tem havido rotatividade e os empregados colaboram com idéias, sugestões e "até fazem exigências" quanto ao ambiente de trabalho. "Eles estão pedindo, por exemplo, uma reforma nos vestiários e reuniões mensais com todos os funcionários, e não apenas comos supervisores", comemora Ferrante. "O vírus da Qualidade Total pegou."
Este ano, eles estão comemorando também o maior período sem acidentes de trabalho. "O último foi em 1992", afirma. A empresa pretende ainda ampliar as suas exportações para 35% de sua produção até 1995. Hoje eles exportam 10% para o Mercosul.
Para solidificar as modificações implantadas, a Gennaro Ferrante está recebendo a orientação do Sebrae desde outubro de 1993. "Eles estão nos dando subsídios para o treinamento de funcionários", diz Ferrante.
Uma história de qualidade
Em 1928, Gennaro Ferrante, um marceneiro da Light, já no último grau na escala de supervisão da empresa canadense, deciciu ser autônomo. E abriu uma marcenaria. Para atender ao pedido de João, um irmão que trabalhava numa barbearia, Gennaro confeccionou sua primeira cadeira para barbeiros. Na época, só havia exemplares importados.
Segundo Renato Ferrante, hoje à frente da empresa, o similar nacional do marceneiro, o primeiro do Brasil, despertou atenções e passou a ser o carro-chefe da marcenaria, que "tornou-se a maior fábrica da América Latina a partirda década de 40". Por isso, Lenine Ferrante, filho de Gennaro e paide Renato, diz que a característica fundamental da empresa, desde os primeiros tempos, sempre foi a qualidade. Mas isso, é claro, não impediu a família Ferrante de mudar e buscar meios de aprimorar sua empresa.

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