São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Setor aposta na negociação com o governo

TELMA FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de soltar os lançamentos previstos para este ano, as construtoras querem negociar com o governo questões do plano econômico que o setor considera prejudiciais para a construção. Os empresários se preocupam principalmente com o reajuste anual dos novos contratos e, na passagem para nova moeda, com o descasamento de índices entre financiamentos bancários já concedidos à produção (que têm reajuste pela TR) e prestações a serem pagas pelos compradores.
Esses e outros problemas foram passados ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, no último dia 4. O encontro foi promovido pelo Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Administração e Locação de Imóveis), que, na oportunidade, pediu ao ministro que nomeasse um interlocutor para o debate das questões.
Flávio Scaf, 51, presidente da construtora Edel, diz que o reajuste anual é inviável para a construção. "Não vamos lançar apartamentos até que esse impasse seja resolvido", afirma. A Edel suspendeu o lançamento de um prédio de alto padrão, em Moema, que aconteceria no próximo dia 17. O edifício, que terá a grife do estilista francês Ted Lapidus, prevê unidades de quatro suítes com preço a partir de US$ 220 mil.
Segundo Scaf, a Edel tem programados quatro novos empreendimentos em São Paulo para este ano, todos de alto padrão. "Os projetos estão no 'forno', e só saem quando sentirmos segurança de que não há grandes riscos para os novos contratos". A Edel também atua no exterior, com empreendimentos nos EUA, Portugal, Argentina e Uruguai.
A incorporadora Impar, do Grupo Parizotto, divide as mesmas preocupações das outras empresas, mas apesar disso já fez lançamentos este ano. No final de janeiro colocou à venda o edifício Columbia Park, no Jardim Bonfiglioli (zona oeste). O prédio tem apartamentos de três quartos e uma vaga na garagem. Cada unidade custa cerca de US$ 65 mil.
Gerson Luiz Bendilati, 36, diretor de incorporações da Impar, diz que para viabilizar o empreendimento, a empresa contraiu financiamento do Banespa. "Nosso receio é que, na passagem para a nova moeda, o governo aumente as taxas de juros para impedir uma explosão de consumo. Nesse caso, pode haver um descasamento entre a dívida bancária, reajustada pela TR, e a correção nos contratos dos compradores", diz.
A Impar planejou 12 novos empreendimentos para 94, quase o dobro dos lançamentos que fez no ano passado. "Acreditamos que ainda há tempo de cumprir essa meta. Embora hoje nossa postura seja de cautela, achamos que o governo vai se abrir para negociação", diz Bendilati.
Até que as regras do jogo fiquem mais claras, a Método Engenharia só confirma um lançamento para 94. Trata-se de um edifício com 60 apartamentos de quatro quartos no Campo Belo (zona sul). "Nossa meta seria lançar 240 unidades por ano, mas quem viabiliza a meta é o mercado. Ele estava aquecido nos últimos meses, mas hoje está virtualmente parado", diz Victor Foroni, 45, presidente da empresa.
Foroni afirma que a Método suspendeu temporariamente as vendas para discutir a nova situação. "Ainda que atualmente haja alguns problemas, temos uma postura otimista para o futuro. O plano do governo está bem estruturado. Não se passa de uma cultura inflacionária para um quadro mais estável sem pagar algum tributo".(Telma Figueiredo)

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