São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Desigualdade social é o maior desafio

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O novo presidente chileno, Eduardo Frei, assumiu como compromisso maior "erradicar a pobreza no Chile". Embora tenha de lidar com um alto comando militar com poderes próprios, garantidos pela Constituição herdada da ditadura de 16 anos, que tornou Pinochet "inamovível" da chefia do Exército até 1997, Frei acha que os grandes obstáculos à democracia no Chile são outros. Concorda com seu antecessor, Patricio Aylwin, que em vários discursos de fim de mandato citou "desigualdades criadas pelo mercado, corrupção política e aumento das pressões sociais" como o mais urgente a enfrentar.
Aylwin, surpreendido ultimamente com feições tristes, até chorando, embaraçado com especulações financeiras que resultaram em perdas de mais de US$ 200 milhões para a estatal de cobre Codelco, confessou que "queria ter feito mais pelos 4 milhões ou 5 milhões de pobres chilenos" (população de 13,5 milhões) com existência constatada nas estatísticas oficiais.
"O mercado costuma ser tremendamente cruel, favorecendo os mais poderosos e agravando a miséria dos mais pobres", disse a 8 de março, no Dia Internacional da Mulher.
Ele manteve em seu quadriênio (1990 a 1994) os bons índices macroeconômicos produzidos pelo neoliberalismo pinochetista. Média de crescimento anual de 6,3%, inflação do ano passado abaixo dos 15% e gastos do governo sob controle. Mas alterou a política da ditadura de conta-gotas ("trickle-down") em compensações sociais.
Entre 1990 e 1992, a partir da idéia de "crescimento com igualdade", lançada por Aylwin, o nível de pobreza caiu de 40% para 33% da população. O de pobreza extrema, de 14% para 9%. Os levantamentos são bienais.
Frei, que se diz "presidente dos novos tempos", com mandato até o ano 2000, quer acelerar essas quedas. Mas terá oposição de direita muito forte no Congresso, o que significará exigências de maior flexibilidade na "política de consensos", criada por Aylwin como forma de ir adiante, e possivelmente em dificuldades para maiores aberturas sociais.

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